2007-11-30

Países terríveis: Portugal (iv)

Não há nada mais português que a cunha. A cunha consiste na recomendação de uma pessoa influente e está profundamente entranhada nas mentalidades e nos hábitos dos portugueses. No nosso país, não é possível fazer o que quer que seja sem ela. Não se consegue arranjar um emprego decente, ganhar um concurso público ou obter colocação na faculdade de medicina sem meter uma cunha; o mérito individual conta pouco ou quase nada. Isto demonstra que o pensamento moral predominante entre nós é o da parcialidade. A generalidade dos portugueses supõe que a moralidade começa com os deveres com amigos, familiares e colegas e mais do que isso não é necessário. Porém, um raciocínio moral destes é insuficiente. Para realmente sermos pessoas decentes, devemos procurar ser imparciais, porque o bem-estar de cada pessoa é igualmente importante e todos são igualmente dignos de respeito.

A mentalidade dos nossos empresários é um caso flagrante de parcialidade. Ao contrário do que ocorre na maioria das economias de mercado do mundo, nas grandes empresas portuguesas é o princípio da cunha que rege a gestão e transmissão de poder. Enquanto que normalmente as direcções e os dirigentes dos grandes grupos internacionais são escolhidos segundo o mérito dos candidatos, em Portugal o que conta quase sempre é a sua origem e o seu apelido. A continuidade das empresas familiares é um objectivo abertamente assumido pelas famílias abastadas, que constituem as elites económicas, sociais e por vezes também políticas de Lisboa e Porto. Partilham interesses, ideais e modos de comportamento. E formam uma rede estreita de interesses, que dificulta o acesso do exterior.

2007-11-26

Homens

Os homens quando se juntam
Para tomar um copo de vinho
Começam no Santo António
E acabam no São Martinho.

2007-11-25

Vasco Pulido Valente (ii)

O Vasco Pulido Valente volta a aborrecer as pessoas com as suas críticas literárias, mas desta vez tem a honestidade de dizer que o verdadeiro objecto do seu artigo não é o livro Rio das Flores, mas o seu autor, Miguel Sousa Tavares. (in PÚBLICO, 24.11.2007)

2007-11-24

Mulheres

As mulheres quando se juntam
Para falar da vida alheia
Começam na lua nova
E acabam na lua cheia.

2007-11-10

The Last Supper

The world's greatest masterpiece under the microscope: Leonardo da Vinci's The Last Supper.

2007-11-08

Hot Fuzz


Hot Fuzz (2007) foi uma aposta arriscada. Ainda que o novo filme da dupla Simon Pegg e Edgar Wright não fosse uma sequela de Shaun of the dead, as comparações entre as duas obras eram inevitáveis. Não é fácil suceder a um filme que foi descrito por muita gente como o melhor filme de zombies depois da trilogia de George Romero. Se Pegg e Wright quisessem reconquistar o seu público, não lhes bastaria ser muito bons, teriam de ser ainda melhores do que já tinham conseguido antes. Felizmente, Hot Fuzz não desiludiu os fãs, bem pelo contrário. O filme é excelente e chega mesmo a suplantar o seu predecessor.

Ambos os filmes deixam o espectador perplexo. São duas obras que juntam géneros, formas e referências das proveniências mais estranhas: Shaun of the dead é descrito pelo próprio Edgar Wright como a primeira zom com rom ou comédia romântica de zombies, enquanto que Hot Fuzz hesita entre a acção, a comédia, o terror e a telenovela. Porém, o segundo filme é melhor, maior e mais ambicioso. Se o primeiro poderá ser uma mistura demasiado exótica e extravagante para o gosto de alguns, já Hot Fuzz é um filme superior pela musicalidade do seu conjunto, mais regrado e equilibrado. E essa sua superioridade começa na própria fonte: os filmes de acção.

Os filmes de acção ocupam um lugar único na história recente do cinema. Os géneros cinematográficos têm evoluído no sentido de uma especialização cada vez maior, mas o cinema de acção tem seguido o caminho inverso e atraído para o seu interior as formas mais diversas. É sobretudo a partir dos finais dos anos 80 que realizadores como James Cameron e John McTiernan dão início a este movimento expansionista: Aliens é protagonizado por uma mulher comum; em Predator, o inimigo já não é um governo estrangeiro mas uma criatura de outro planeta; e em Die Hard, a psicologia das personagens é mais importante que o espectáculo pirotécnico.

A etapa mais recente deste fulgurante processo evolutivo é Hot Fuzz, que leva ainda mais longe a versatilidade natural do cinema de acção. O filme aposta em inúmeras frentes e ganha em todas. Os espectadores mais atentos tirarão grande prazer na descoberta das inúmeras citações, evocações e paródias. Mas ainda que a riqueza de referências impeça uma categorização fácil, Hot Fuzz não deixa de ser, assumidamente e sem complexos, um verdadeiro filme de acção. O núcleo duro do género está lá, cuidadosamente preservado: as sequências de acção espectaculares, emocionantes e admiravelmente coreografadas. A sua violência estilizada pouco ou nada fica a dever, em engenho e divertimento, às maiores produções americanas.

2007-11-05

Clive Barker

Das letzte Meisterwerk von Clive Barker ist kein Buch: Jericho.

A última obra-prima de Clive Barker não é um livro: Jericho.

2007-10-30

Fados

Meine Lieblingsstücke vom Mosaik Carlos Sauras: Caetano Veloso, Ricardo Ribeiro und die Nonchalance von Argentina Santos.

As minhas peças preferidas do mosaico de Carlos Saura: Caetano Veloso, Ricardo Ribeiro e a nonchalance de Argentina Santos.

2007-10-29

Herman José & Cicciolina

«LOUCURA!

Cicciolina pôs Lisboa em alvoroço. Mostrou tudo – e ainda se deu ao luxo de entrevistar Herman José, em rigoroso exclusivo para o Tal & Qual


CHEGOU, MOSTROU, VENCEU!

Cicciolina não conseguiu resistir à tentação: apanhando Herman José ao jantar, na passada quarta-feira (e sabedora da sua fama de homem sem papas na língua), apressou-se a 'assaltar' o popular cómico com uma catadupa de perguntas indiscretas. O repórter do Tal & Qual estava mesmo ao lado – e registou o impagável diálogo, em rigoroso exclusivo…

Cicciolina – Alguma vez pensou em seguir uma carreira política, como eu? Por que foi que não o fez?

Herman – De brincadeira, já pensei. Mas meter-me nisso por brincadeira já nem seria original. É claro que a última grande ambição de quem intervém na vida pública, como um actor faz, acaba por ter um certo fundo político. Mas não tenho jeito para essas coisas. Nem sequer alguma vez fui membro de um partido político! Não, não: sou muito volúvel. Odeio associações de qualquer espécie…

Cicciolina – Imagine que era italiano. Teria votado em mim, nas últimas eleições?

Herman – Sim, senhora. Primeiro, para irritar a massa grande e cinzenta que odeia este tipo de coisas que escapam ao seu conservadorismo. Depois, porque penso que não teria coragem para deixar de apoiar uma cara tão bonita e uma figura de pulso tão frágil…

Cicciolina – Quem é que acha que é hoje mais popular em Portugal: você ou eu?

Herman – Você. Ah, mas eu sou muito mais sexy…

Cicciolina – Já viu algum show erótico ao vivo? Não ficou sexualmente excitado?

Herman – Ao vivo, nunca: só em videocassette. Mas devo confessar que, nas alturas próprias, dá muito resultado!

Cicciolina – Que alturas?

Herman – Quando apetece induzir um ambiente de lascividade e pecado… Devo mesmo declarar que uma boa cassetezinha ajuda sempre, como quem não quer a coisa.

Cicciolina – Se eu o convidasse para ir a Roma fazer um espectáculo erótico, em que mostrasse todo o seu corpo – ia?

Herman – Não, não ia. Estou muito gordo, sabe. E, depois, o meu talento oculto não é igual ao outro. Quero dizer: não me atrevia!

Cicciolina – Quantas mulheres levou para a cama, ao longo da sua vida? E homens?

Herman – Senhoras, bastantes. Mas só me lembro de duas ou três, as que valeram a pena. Homens, alguns, mas só para dormir. Tenho um grande carinho pelos meus amigos, mas não quer dizer que faça sexo com eles.

Cicciolina – Qual foi a noite (privada, claro) mais feliz da sua vida?

Herman – Ainda está para vir, espero!

Cicciolina – Usa preservativos?

Herman – Não. Fazer amor com preservativos é, para mim, como o mesmo que obrigar a Maria João Pires a tocar piano com luvas calçadas; é como comer um bife dentro de um saco de plástico; como ir à praia do Guincho com máscara de oxigénio.

Cicciolina – Se eu lhe sugerisse agora que viesse comigo à casa de banho para me ajudar a retocar o rimmel – você aproveitava para me apalpar?...

Herman – Pode não acreditar, mas aproveitava para falar consigo de política…

Cicciolina – Acha que era capaz de viver com uma pessoa tão 'transgressora' como eu?

Herman – Eu acho que morria de ciúmes!

Cicciolina – Não me diga que é ciumento…

Herman – A menina nem imagina!

Cicciolina – E quando eu voltar a Lisboa – vai-me buscar de Rolls-Royce?

Herman – Nessa altura, eu espero é ter dinheiro para lhe oferecer um…»


(in Tal & Qual nº 387, 20 a 26 de Novembro de 1987, págs. 1, 9 e 10)

2007-10-25

Marie Antoinette (ii)


Marie Antoinette (2006), de Sofia Coppola, é um filme que se ouve com enorme prazer. As escolhas musicais da jovem realizadora, agradavelmente suspensas entre a erudição e a popularidade, são arrojadas e originais. A par das composições barrocas de Jean-Philippe Rameau, François Couperin e Antonio Vivaldi, figuram canções de bandas como New Order, The Cure, Siouxsie and the Banshees e Bow Wow Wow, além de temas de The Strokes, Aphex Twin e The Radio Dept. É difícil situar uma banda sonora destas na vasta geografia das relações entre música e cinema.

A música de um filme acompanha a quase totalidade das suas sequências, mas não deveria suscitar uma atenção consciente do espectador. A sua escrita e os modos de surgimento contribuiriam para esse apagamento ou diluição. Nisto consiste um dos dogmas mais sagrados do classicismo de Hollywood. A grande audácia da banda sonora de Marie Antoinette está precisamente na notoriedade. A sua música constitui uma obra à parte, um segundo filme dentro do filme ao qual ninguém fica indiferente.

As transgressões de Sofia Coppola não se ficam pelas opções musicais. São vários e plenamente assumidos os casos de pormenores anacrónicos e inexactidões históricas: a sequência do baile de máscaras é filmada na Ópera de Paris, que só abriu as portas em 1875, mais de 80 anos após a morte de Marie Antoinette; só são mostrados três filhos do casal real, quando na realidade eram quatro; e numa das cenas mais comentadas do filme, a protagonista calça um par de sapatilhas Converse. A respeito das famosas sapatilhas, a realizadora reiterou que a sua inclusão foi propositada e disse que pretendia mostrar Marie Antoinette como uma adolescente normal, independentemente da época histórica.

As observações de Sofia Coppola apontam ao intérprete o caminho a seguir. As liberdades poéticas afastam o filme do sistema gravitacional dos filmes históricos e impelem-no para a órbita do que poderíamos descrever como o correspondente cinematográfico do romance de formação, o Bildungsfilm: uma obra que acompanha a evolução de um protagonista em confronto com as influências do meio exterior. Porém, também aqui Coppola é original. Se os homens protagonizavam os tradicionais romances de formação, já a perspectiva dominante no filme é a de uma mulher jovem, fascinante e encantadora.

2007-10-22

Há Lodo no Cais

A arte de dizer mal bem: Há Lodo no Cais, dos mordazes José António Galvão e Susana Marques Esteves.

2007-10-16

Frankfurt 2007 (ii)


Endlich! Die Buchmesse! (Eingang City)

Finalmente! A Feira do Livro! (Entrada Cidade)



Eine Lesung von einem talentierten Autor.

Uma leitura de um autor talentoso.

2007-10-11

Bur(r)ocracia (iii)

Os nomeados da semana são os funcionários do complexo desportivo do Sporting Clube de Portugal que dizem que o contrato tem um prazo apesar de o dito contrato dizer que não tem prazo. Mireille est morte, pourtant elle est vivante. Eis o Sporting.

2007-10-05

Vasco Pulido Valente

Parece que o Vasco Pulido Valente não gostou muito do filme As Vidas dos Outros. O senhor acha que se trata de «um melodrama de intelectual adolescente, sem vestígio de imaginação e originalidade» e acrescenta, com aquele tom de permanente enjoo que todos lhe reconhecemos, que «como filme nem se quer [sic] valia a pena falar dele» (in Revista Atlântico, Outubro 2007). Porém, mais valia que tivesse ficado calado. O texto do Valente é superficial, grosseiro, inábil, tendencioso e estúpido e demonstra um desconhecimento clamoroso dos processos históricos. Como texto, nem sequer valia a pena falar dele. Além do cliché já desgastado da suposta americanização do filme, toda a argumentação do Valente se resume, na verdade, a duas únicas ideias: a «implausível metamorfose de Wiesler» e a instrumentalização da Stasi pelo ministro da Cultura.

A descrição que o Vasco Pulido Valente faz da actuação do ministro está errada. Não é dele que parte a iniciativa de escutar o dramaturgo, mas do próprio capitão da Stasi, cujo requerimento é posteriormente ratificado pelos superiores. Isto significa que escapou ao Valente um pormenor fundamental e uma das ironias mais subtis do filme: é o próprio Wiesler que inicia o longo processo da sua infâmia e destruição. E quando o Valente critica a suposta inverosimilhança da sua conversão, subestima o significado da música para um povo como o alemão. A relação dos alemães com o mundo é, disse-o Thomas Mann, musical. E porque a música «é de todas as artes a mais afastada da realidade e simultaneamente a mais apaixonada, é abstracta e mística», a conversão de Wiesler assume os contornos de uma experiência mística: o momento fugaz de revelação de uma verdade, cuja natureza é inefável e desafia as explicações racionais. O caso de Wiesler não é, aliás, inédito: alguns nazis, comovidos pela música, também pouparam as suas vítimas. Foi o que sucedeu com Wladyslaw Szpilman (que inspirou outro filme admirável, O Pianista, de Roman Polanski) e com o compositor Berthold Goldschmidt.

2007-10-04

Anagram

President Clinton of the USA

To copulate he finds interns

2007-09-21

Luiz Felipe Scolari

O Scolari comporta-se como uma besta e é severamente punido por isso. É a ordem normal das coisas. Tudo no universo é causa e efeito, acção e reacção.

Der Scolari benimmt sich wie eine Bestie und wird dafür schwer bestraft. Es ist die normale Ordnung der Dinge. Im Universum ist alles Ursache und Wirkung, Aktion und Reaktion.

2007-09-18

Herman José

Der beste Humorist Portugals hat auch ein Blog: Herman José.

O melhor humorista de Portugal também tem um blogue: Herman José.

2007-09-13

Países terríveis: Portugal (iii)


Se a Polónia e Moçambique são países terríveis, Portugal é simplesmente medonho. Há boas razões para não gostar dos portugueses e muitas delas estão enunciadas no livro Portugal, Hoje: O Medo de Existir, do José Gil. O próprio autor reconhece que só falou do que está mal, porque quis dar «relevo ao que impede a expressão das nossas forças enquanto indivíduos e enquanto colectividade». O seu estudo aborda o que os historiadores chamam «mentalidades» e recorre a conceitos da filosofia, da psicanálise e da ciência política. De fora, ficou a análise de obras artísticas e literárias que poderiam ter ilustrado as suas teses. Ficaram também excluídas algumas peculiaridades de linguagem que teriam sido úteis, porque o nosso atraso tem também causas linguísticas. Há duas dessas peculiaridades que vale a pena mencionar: as formas de tratamento e o eufemismo.

Os portugueses recorrem insistentemente ao eufemismo. É uma figura que suaviza o discurso: a corrupção transforma-se em cunha ou jeitinho, o aborto converte-se em interrupção voluntária da gravidez e a fome é substituída por fraqueza razoável. Quando os nossos diplomatas quiseram justificar junto das Nações Unidas a guerra colonial falaram em operação policial. Claro que o eufemismo não é um exclusivo português. Também o encontramos entre os israelitas, com o sentido de auto-crítica que é característico do humor judaico. Os ingleses também o utilizam com frequência, porque uma das maneiras de sublinharem a sua altivez é minimizarem a gravidade dos acontecimentos. Mas se o eufemismo dos ingleses é um exercício de sagacidade que os ajuda a tirar partido das circunstâncias, já o eufemismo português tem exactamente o efeito contrário: deturpa a visão das coisas e, porque um diagnóstico preciso é o primeiro passo para o tratamento de qualquer doença, contribui para o nosso imobilismo.

As múltiplas formas de tratamento são outro vício recorrente entre nós. Temos uma apetência doentia por títulos académicos – senhor doutor, senhor engenheiro, senhor arquitecto – sem paralelo lá fora e que surpreende e confunde os estrangeiros que nos visitam. Os alemães usam o seu Doktor apenas a respeito dos médicos. E entre os ingleses, o you serve para toda a gente, com ou sem protocolo: sinal de sofisticação, de simplificação democrática, como refere o saudoso Eduardo Prado Coelho no seu livro Nacional e Transmissível. Já os títulos portugueses são a marca discursiva das nossas enormes desigualdades sociais. Eles revelam a sobranceria das elites, mas também, e pior que isso, o respeito reverencial permanente das classes mais baixas. Portugal não é apenas o país mais injusto da Europa, mas também o mais resignado.

2007-09-11

Propinas (iii)

Agora que as propinas milionárias estão em pleno vigor e que acaba de ser aprovada a benesse do crédito aos estudantes, já sabemos quem sai a ganhar desta balbúrdia toda: os banqueiros, pois claro.

2007-09-09

Salazar

«Basta a ver as reacções do nosso povo diante dos grandes crimes, a que os jornais dão proporções escusadas. O primeiro movimento é de violência, de rancor, quase de ódio contra o criminoso, contra os seus maus instintos, contra a fera, etc., etc. Mas o assassino é julgado e há sempre uma figura humana que aparece na teia, ao seu lado: a companheira dedicada, a mãe velhinha, o filho abandonado… E logo se sente uma reviravolta, um movimento de compaixão na opinião pública: ‘Coitado! Pobre homem! Bem basta o que já sofreu…’ E quando é lida a sentença, quando a pena é justa mas grande, sente-se de novo, nas entrelinhas dos jornais, nos rumores do público, um movimento de violência, de rancor, quase de ódio, mas contra os juízes, contra a justiça…»

(in António Ferro: Salazar, o Homem e a Sua Obra, p. 78)

2007-09-05

Joseph Gordon-Levitt


In ein paar Jahren wird dieser Junge der neue Marlon Brando sein: Joseph Gordon-Levitt.

Dentro de alguns anos, este rapaz será o novo Marlon Brando: Joseph Gordon-Levitt.

2007-08-26

Lev Nussimbaum

Das faszinierende Leben von Lev Nussimbaum.

A vida fascinante de Lev Nussimbaum.

2007-08-23

Vasco Graça Moura

O Vasco Graça Moura é, como sabemos, um excelente poeta. A sua obra poética tem um valor inegável e é uma referência fundamental do que se convencionou chamar de pós-modernismo português. Porém, um poeta sensível não é necessariamente um bom jurista: se os juristas são cautelosos e objectivos por natureza, já os melhores poetas, porque o seu trabalho consiste na expressão da imaginação, são impulsivos, apaixonados e arrebatados. Tudo isto vem a propósito do texto O Caso das Borboletas Trapalhonas (in Diário de Notícias, de 22 de Agosto de 2007). Quando o Moura analisa a destruição do milho transgénico na Herdade da Lameira, faz uma abordagem não jurídica mas poética, isto é, apaixonada, da questão.

Em O Caso das Borboletas Trapalhonas, Vasco Graça Moura acusa o governo e a GNR de brandura excessiva. Sublinha a gravidade da destruição do hectare de maçarocas transgénicas e entende que as forças policiais, ao não procederem à detenção dos manifestantes, fizeram o contrário do que manda o número 3 do artigo 255 do Código de Processo Penal. Porém, não tem razão no que diz. A polícia actuou com serenidade, eficácia (o próprio Vasco Graça Moura o reconhece, ao dizer que «a horda obedeceu à GNR e cessou as malfeitorias logo que intimada por ela») e em estrita obediência à lei.

Não houve qualquer ilegalidade por parte da GNR. Da leitura da alínea a) do artigo 260º e do número 2 do artigo 192º do Código de Processo Penal resulta que a detenção não deve ser mantida caso existam motivos fundados para crer na existência de causas de isenção de responsabilidade ou da extinção do procedimento criminal. Caso se venha a comprovar que o milho transgénico representa uma ameaça para a saúde pública, a actuação dos manifestantes estará a coberto de uma causa de justificação, a acção directa, e não será ilícita. Ainda mais claro é o número 1 do artigo 261º do mesmo Código, ao impor que se proceda à imediata libertação logo que a detenção se torne desnecessária, como foi o caso. Ao ignorar estas e outras normas legais, quem escamoteia a verdade é o Graça Moura, não o ministro.

2007-08-20

Günter Grass

Günter Grass und Norman Mailer in New York.

Günter Grass e Norman Mailer em Nova Iorque.

2007-08-14

Das Leben der Anderen


É difícil explicar o funcionamento da ironia. Parece estranho que digamos algo que na realidade não pensamos e que, ao mesmo tempo, queiramos que as outras pessoas compreendam aquilo que dissimulamos. Porém, o sucesso da ironia é inegável. O seu uso é frequentíssimo e permite dar mais expressividade à comunicação de uma ideia, de um ponto de vista ou de uma história. Veja-se o caso de Das Leben der Anderen (2006). O extraordinário filme de Florian Henckel von Donnersmarck é uma obra marcada pela ironia: não só demonstra a eficácia do seu poder encantatório, mas também permite que a observemos em todas as suas formas e tonalidades.

A forma mais frequente de ironia é a verbal. A ironia verbal consiste em dar a entender o oposto do que se diz, pelo que as palavras não são utilizadas no seu sentido próprio e literal. As falas de Das Leben der Anderen são muitas vezes irónicas e carregadas de segundos sentidos. Quando o jornalista Paul Hauser diz «desde então, tornei-me muito musical» não se refere a um gosto sincero pela música, mas sim à necessidade de iludir as escutas da sua casa. As palavras de Hauser revelam uma insatisfação profunda pelo estado das coisas: a sua ironia é, por isso, amarga. Outras vezes, a ironia é sorridente: quando Gerd Wiesler se refere ao livro de Georg Dreyman e diz «não, é para mim», a duplicidade de sentidos é encantadora e optimista.

Outra forma de ironia presente em todo o filme é a ironia dramática. Sabermos mais que as personagens, nisso consiste a ironia dramática. Sabemos que Wiesler falsificou os relatórios e escondeu a máquina de escrever para salvar Dreyman, mas os seus colegas da polícia política não o sabem. E quando é mostrada a manchete da subida ao poder de Gorbatchev, sabemos que a ditadura comunista está próxima do seu fim, mas os protagonistas ainda não. A ironia dramática permite que vejamos o filme com os olhos de um oráculo e que conheçamos de antemão a conclusão da história, mas não prejudica o nosso interesse. Ela faz com que nos envolvamos emocionalmente com as personagens e convida à reflexão sobre as causas dos seus actos. Tudo isto significa que não é suficiente ver Das Leben der Anderen só uma vez. Quando estivermos libertos da tensão e da curiosidade do primeiro visionamento, poderemos então concentrar a nossa atenção nas motivações dos protagonistas e no funcionamento do sistema em que eles se inserem.

Há ainda uma terceira forma de ironia, que poderíamos designar de narrativa. É irónico que o realizador tenha escolhido para protagonista um oficial frio e implacável, que rege a sua vida por princípios e não por sentimentos. Ao pedir para vigiar um casal de artistas e ao mergulhar cada vez mais nas vidas deles, Wiesler ganha consciência do deserto da sua própria vida e fará de tudo para proteger essas pessoas. Ele é o homem bom referido na belíssima sonata de Gabriel Yared. Ao adoptar a perspectiva deste capitão da Stasi, o filme de Florian Henckel von Donnersmarck é original: o realizador aborda os mecanismos da ditadura não apenas sob a forma de uma simples acusação, mas numa tentativa de mostrar com honestidade e clareza os destinos humanos em conflito com um regime autoritário.

2007-07-31

The Matrix (ii)


Cypher é a personagem mais controversa do filme The Matrix (1999). Os seus actos parecem ainda mais odiosos que os das máquinas, porque supostamente revelam astúcia e mesquinhez. Cypher desiste do combate por Zion e denuncia os seus companheiros. Em troca, pretende apenas esquecer o seu passado e viver dentro de um programa que lhe proporcione uma vida mais confortável. À mesa de um restaurante virtual e enquanto saboreia a imitação de um bife, ele esclarece quais são as suas intenções: «I know this steak doesn’t exist. I know that when I put it in my mouth, the Matrix is telling my brain that it is juicy and delicious. After nine years, you know what I realize? Ignorance is bliss.»

A opção de Cypher parece chocante e inaceitável. Os seus opositores apontam-lhe duas grandes objecções. A primeira é o seu servilismo. Uma pessoa ligada a uma máquina de experiências ficaria manietada, porque seria apenas o recipiente passivo de experiências previamente programadas. Estaria privada não só de alterar a sua vida e o mundo, mas também de ser insólita e plenamente criativa, de poder inventar novos mundos. Não seria, para usar a expressão do saudoso Professor Agostinho da Silva, inteiramente livre. A segunda objecção consiste no egoísmo dessa decisão. Cypher agiria de forma egoísta, ao fazer do seu próprio prazer o objectivo mais importante da vida e ao preferir as meras sensações às experiências genuínas.

Se pensarmos um pouco mais, chegaremos à conclusão que estas objecções são injustas. Cypher quer apenas tornar a sua vida melhor. É uma aspiração natural, sobretudo se considerarmos que ele viveu quase uma década em condições difíceis e perigosas no deserto do real. Tão natural, aliás, que os seus companheiros da nave Nebuchadnezzar partilham dos mesmos desejos: também o íntegro e leal Mouse discorda de Dozer quando este diz que a ração de combate tem tudo o que o corpo necessita; não tem, porque não proporciona o prazer que é essencial à vida humana. Parece absurdo dizer que uma vida tão insípida como esta é livre. A existência no mundo virtual, pelo contrário, pode ser incrivelmente sedutora. Não só porque as máquinas conseguiram criar uma realidade rigorosamente idêntica à nossa, mas também porque melhoraram essa realidade em muitos aspectos: por exemplo, a pobreza foi erradicada. E porque os habitantes da Matrix não sabem nem têm possibilidade de saber que vivem numa máquina, a sua existência nada tem de censurável.

Tudo isto significa que Cypher não é mau. Ele não é um vilão porque o seu comportamento não ofende os padrões morais e ideológicos da nossa sociedade, embora seja um antagonista, já que as suas escolhas o contrapõem ao protagonista do filme. Neo representa o filósofo autêntico. Ele sobrepõe o que pensa ser a busca da verdade a todas as outras coisas: quando Morpheus lhe dá a escolher entre o comprimido vermelho que permite aceder à verdadeira natureza das coisas e o comprimido azul que mantém inalterada a sua percepção do mundo, Neo opta por enfrentar o deserto do real. A sua decisão teria sido aplaudida por Platão, que identifica felicidade com autenticidade, assim como Camus, Heidegger ou Sartre. Também John Stuart Mill afirmou que «é melhor ser um humano descontente que um porco satisfeito; é melhor ser Sócrates descontente que um tolo satisfeito.» Já a opção de Cypher pelo prazer e pelo sonho faz dele não um filósofo, mas um poeta. As críticas feitas à sua escolha não se distinguem muito das que têm sido feitas à poesia e são igualmente injustas.

2007-07-18

London 1849

«One of the greatest challenges to urban life in the nineteenth century was the question of what to do with what Johnson calls the ‘rising tide of excrement’ piling up under the feet of the population of London and other cities. At the time the custom was to throw one’s waste out the back window or store it in overflowing cesspools and cellars. An 1849 survey found out that in London, one home in five stank of human waste, and one in twenty contained heaps of shit in the cellar. ‘At mid-century Victorian England was in danger of becoming submerged in a huge dung-heap of its own making,’ wrote historian Anthony Wohl.»

(Helen Epstein : 'Death by the Numbers', in The New York Review of Books, Volume LIV, Number 11, June 28 2007, p. 41)

2007-07-13

eXistenZ


eXistenZ (1999) é o filme mais incompreendido de David Cronenberg. Muita gente acha o filme desinteressante e até alguns fãs do realizador canadiano falam de uma imitação servil das suas melhores obras, em especial o fabuloso Videodrome. Porém, as críticas são tremendamente injustas. Não só porque qualquer autor tem sempre o seu conjunto de temas e motivos predilectos aos quais regressa ciclicamente, mas também porque o filme traz grandes novidades à linguagem cinematográfica de David Cronenberg: em eXistenZ, a câmara perde a sua tradicional fluidez e a montagem predomina sobre a mise en scène. O próprio Cronenberg reconheceu a importância da montagem: «And there’s a lot more cutting, editing, in eXistenZ, than there is camera movement. It wasn’t an intellectual thing, it was just visceral. It felt to me that I needed to move around, but I didn’t want to do big, swooping camera moves.»

O brilhantismo da montagem de eXistenZ começa ao nível dos enquadramentos das cenas. A melhor montagem é a que passa imperceptível aos olhos do espectador e o montador David Cronenberg efectua sempre os cortes no tempo e no lugar que asseguram o máximo de fluidez e elegância da sua narrativa. Um bom exemplo é o momento da entrada dos protagonistas no jogo. Qualquer outro montador teria recorrido a sinais óbvios que nos avisassem que estávamos acedendo a um ambiente virtual, mas Cronenberg evita esses floreios ou feitos acrobáticos e prefere as soluções mas subtis e eficazes. Isto dá à sua montagem uma qualidade que poderíamos designar de musical, porque o momento de um corte é escolhido como o da entrada de um instrumento numa peça musical.

Ao nível da montagem de sequências, Cronenberg também é original. A arquitectura do filme é arrojada e complexa: uma sucessão fulgurante de níveis diegéticos, de narrativas dentro de narrativas, de jogos dentro dos jogos. Já tínhamos visto algo de semelhante nas famosas Mil e uma noites, um texto literário com o qual o filme tem grandes afinidades. Porém, há uma diferença fundamental: não encontramos qualquer narrativa enquadrante em eXistenZ. Se no texto tradicional das Mil e uma noites a história de Xerazade e Xahriar é apresentada como a realidade dentro da ficção, um ancoradouro a que podemos recorrer com alguma segurança, já no filme de Cronenberg nunca sabemos até onde chega o universo de bonecas russas e qual delas é a última. O filme termina na maior das ambiguidades e a questão «Ainda estamos dentro do jogo?» fica sem resposta. Tudo é difuso e incerto, como num sonho.

2007-07-03

Países terríveis: Moçambique (ii)

Há apenas quatro salas de cinema em todo o Moçambique!

2007-07-01

Joe Berardo

Berardos Austellung zeigt João César Monteiros Schneewittchen und beweist alles, was ich über diesen Film geschrieben habe: Es ist nicht nur ein Film, sondern auch eine Malerei.

A exposição do Berardo mostra a Branca de Neve de João César Monteiro e comprova tudo aquilo que escrevi sobre este filme: não é apenas um filme, mas também uma pintura.

2007-06-26

Inside The Fire

Também é escaldante, mas não tem nada de pornográfico: o excelente blogue Inside The Fire, da nossa Patrícia.

2007-06-20

Serge Gainsbourg

«J’ai essayé l’amitié et c’est encore plus difficile que l’amour. J’ai toujours été déçu dans mes amitiés. Alors ça donne quoi, ça donne un gars solitaire.»

«Je ne veux pas qu’on m’aime mais je veux quand même.»

«Mai 68 ? Eh bien j’étais au Hilton, dans une suite et j’entendais les bang bang bang des gamins. Dans ma tête, je me disais c’est foutu puisqu’ils ne sont pas armés, il ne peut pas y avoir de révolution s’il n’y a des armes que d’un côté. Alors je suis resté au Hilton et j’ai attendu que ça se passe. Je suivais ça sur le tube cathodique, avec l’air conditionné... Si c’est pas du cynisme, ça !»

«Quand j’ai dit à Whitney Houston : I want to fuck you, c’était hard, d’accord, mais quelle pire insulte que de dire à une femme : Vous êtes intirable ?»

«Un jour, au Touquet, j’étais pianiste de bar, un type me donne une pièce de un franc. Moi avec toute mon arrogance je me lève et lui dis : Monsieur je ne suis pas un juke-box !»

«Si le Christ était mort sur une chaise électrique, tous les petits chrétiens porteraient une petite chaise en or autour du cou.»

«Il y a trois fourreaux, celui avec les dents, celui que le judéo-christianisme permet pour procréer, et puis l’autre... Précieux. Alors là, évidemment, c’est plus restreint et plus contracté, donc plus intéressant pour moi. Quand j’ai été initié au sadisme par le mec du même nom, il y avait un héros dans Justine, un noble d’ailleurs, qui se mettait en fureur dès qu’il voyait un con ! Il voulait voir des culs et seulement des culs ! Eh bien, je suis un peu comme ça. Parce qu’un cul, moi je dirais, c’est pullman ; et un con, c’est le wagon à bestiaux.»

«Une fille sans tabou est une mauvaise amoureuse. S'il n'y a pas d'interdit, si l'on perd le sens des voies interdites, alors je ne vois pas d'où viendraient les excitations! La femme moderne fera des tas d'homosexuels dans l'avenir, parce qu'elle se veut libérale. Moi, je suis très conservateur là-dessus. Je suis un réac amoureux.»

«Il y a un proverbe arabe qui dit : Le Bédouin qui dort sur le sable ne craint pas de tomber de son lit.»

«La posterité ? Comme disait l’autre : Qu’est-ce que la posterité a fait pour moi ? Je fucke la posterité.»

2007-06-18

Das Duas Uma

Também o António-Pedro Vasconcelos já aderiu aos blogues: Das Duas Uma.

2007-06-17

Países terríveis: Polónia (i)

A Polónia é um país terrível. Se todos nós desprezamos as pessoas que vivem de subsídios e à custa do trabalho dos outros, o que dizer de um país inteiro de oportunistas? A Polónia foi um resultado infeliz do Tratado de Versalhes, que redesenhou o mapa da Europa após a Primeira Grande Guerra e dilacerou o território da Alemanha vencida. Os alemães ficaram chocados com os polacos por terem aceite territórios aos quais não tinham qualquer direito histórico nem conquistaram militarmente. Isto explica a brutalidade inaudita da invasão da Polónia por Hitler em 1939. Porém, não se pense que a Polónia foi um caso de resistência heróica a um invasor desumano e com o coração «fechado à piedade», porque em matéria de crueldade e sadismo essa gente quase que suplantou os nazis. Em retaliação pela invasão, os polacos cometerem as suas próprias atrocidades: dezenas de milhares de alemães étnicos foram deportados e assassinados. O pior massacre ocorreu a 3 de Setembro em Bromberg, onde foram mortos mais de mil alemães. E durante a ocupação, nenhum povo foi tão solícito como o polaco a denunciar judeus: não porque as circunstâncias difíceis os obrigassem a isso, mas apenas a troco de vodka, fósforos e dinheiro. A proclamação da República Popular a 22.7.1944 não fez grande coisa para remediar esse carácter oportunista e avesso ao mérito individual. Mesmo os maiores nomes polacos das artes e do espectáculo – Chopin, Karol Wojtyla, Roman Polanski – tiveram de abandonar o país para serem reconhecidos.

2007-06-12

Margarida Rebelo Pinto (ii)

Margarida Rebelo Pinto publicou mais um livro. Isto significa que não estamos apenas perante a produção de um livro, mas de um verdadeiro evento mediático. Tudo aquilo que é escrito, dito ou feito por esta senhora tem o condão tem de suscitar as maiores controvérsias, embora nem sempre por razões ligadas à literatura. Mas se nos ativermos à literatura, chegaremos à conclusão que a Rebelo Pinto se limitou, mais uma vez, a escrever um bom livro. A rapariga que perdeu o coração não desilude os fãs. O humor, a inteligência e a argúcia continuam lá. A autora faz nova incursão pelo território interminável dos contos de fadas e de lá regressa com uma história rica em sentimentos. Talvez seja mesmo o seu texto mais encantador de sempre. Ao contrário do que sucede com a sua protagonista, o coração da Margarida Rebelo Pinto continua bem vivo.

2007-06-09

2007-06-07

Lola rennt (ii)

«Manni?»
«Mhm.»
«Liebst du mich?»
«Na sicher.»
«Wie kannst du sicher sein?»
«Weiss nicht. Bin’s halt.»
«Aber ich könnte auch irgendeine andere sein.»
«Nee.»
«Wieso nicht ?»
«Weil du die Beste bist.»
«Die beste was?»
«Na, die beste Frau.»
«Von allen, allen Frauen?»
«Klar.»
«Woher willst du das wissen?»
«Ich weiss es halt.»
«Du glaubst es.»
«Na gut, ich glaub’s.»
«Siehste.»
«Was?»
«Du bist dir nicht sicher.»
«Sag mal, spinnst du jetzt, oder was?»

«Und wenn du mich nie getroffen hättest?»
«Was wär dann?»
«Dann würdest du jetzt dasselbe ‘ner anderen erzählen.»
«Was erzähl ich denn ?»
«Dass ich die Beste bin und so.»
«Ich brauch’s ja nicht zu sagen, wenn du’s nicht hören willst.»
«Ich will überhaupt nichts hören. Ich will wissen, was du fühlst.»
«Okay. Ich fühle, dass du die Beste bist.»
«Dein Gefühl. (Pause) Wer ist das, dein Gefühl?»
«Wie meinst du das?»
«Na, wer ist das, der da zu dir spricht.»
«Na ich. (Überlegt) Mein Herz.»
«Dein Herz sagt: ‘Guten Tag, Manni, die da, die ist es’?»
«Genau.»
«Und du sagst dann: ‘Ach ja, recht herzlichen Dank für diese Information, auf Wiederhören bis zum nächsten Mal’?
«Genau.»
«Und du machst alles, was dein Herz dir sagt?»
«Na ja, das sagt ja nichts… es fühlt halt.»
«Und was fühlt es jetzt?»
«Es fühlt, dass da jemand gerade zuviel blöde Fragen stellt.»
«Ach Mann, du nimmst mich überhaupt nicht ernst.»
«Ey. Lola, was ist los?»
«Ich weiss nicht.»
«Willst du weg... von mir?»
«Ich weiss nicht. Ich muss mich grad entscheiden... glaub ich.»

2007-06-05

Currywurst


Ein guter Grund, Berlin zu besuchen: Die Currywurst!

Uma boa razão para visitar Berlim: a salsicha com caril!

2007-05-19

Borat


Os críticos portugueses não gostaram do Borat (2006). O filme foi desvalorizado pela sua linguagem grosseira e aviltante e não superou as duas ou três estrelinhas nas páginas de cinefilia dos nossos jornais. Porém, a reacção foi despropositada. O filme do Sacha Baron Cohen é extraordinário e não a merece. Claro que ninguém é obrigado a gostar deste ou de qualquer outro filme, o problema é que os nossos críticos de cinema menosprezaram o Borat pelas razões erradas.

O Borat é, obviamente, obsceno. Mas a obscenidade em comédia não é nada de insólito. Se a tragédia prefere os temas nobres e os protagonistas de condição elevada, já as personagens vis, os diálogos ordinários e os temas sórdidos sempre foram o prato forte da comédia. Isto é válido não só para o cinema e para a literatura, mas também para as artes plásticas. Piero Manzoni enlatou as suas próprias fezes e fez delas um produto de luxo em Merda d’Artista (1961) e em Topology for a Museum (2001) John Miller mostra um museu enterrado em esterco. Ambos pretendem ridicularizar o funcionamento do mercado de arte.

Algo de parecido acontece com o Borat. O filme recorre ao tema dos excrementos para afrontar a ordem de valores da sociedade americana: quando o protagonista dá uma cagada em frente do Trump International Hotel and Tower está a apontar directamente ao coração pulsante do sistema económico e quando traz a sua merda num saquinho de plástico durante o jantar da Quinta Magnólia está a gozar com os usos sociais. Isto é o que poderíamos chamar de função crítica do humor. Ao parodiar as convenções e ritos de uma sociedade, a piada deixa à vista o carácter arbitrário desses ritos e pode contribuir para a sua mudança.

Resta saber o que permite à comédia ser tão arrojada. Se pensarmos nisso, é espantoso que humoristas como o criador do Borat sejam tão cáusticos e ao mesmo tempo tão populares. O segredo está na segunda função do humor, a psicológica. O humor traz benefícios. Ele permite que aceitemos as nossas fraquezas e que vençamos os nossos medos, ou pelo menos que os compreendamos melhor. Freud escreveu longamente sobre o riso como uma manifestação do inconsciente, uma válvula de escape que traz à superfície os impulsos que fomos obrigados a reprimir desde a infância.

2007-05-11

2007-05-09

Nicolas Sarkozy

Ensemble tout devient possible (sauf la Turquie).

2007-05-08

Intelectual, eu?

Sou demasiado filosófico para uns e para outros não sei pensar. Por favor, decidam-se.

2007-05-05

Ludwig Wittgenstein

«It was a biography of Ludwig Wittgenstein, a philosopher I had heard of but never read – not an unusual circumstance, since most of my reading was confined to fiction, with nary the smallest dabble in other fields. I found it to be an absorbing, well-written book, but one story stood out from all the others, and it had stayed with me ever since. According to the author, Ray Monk, after Wittgenstein wrote his Tractatus as a soldier during World War I, he felt that he had solved all the problems of philosophy and was finished with the subject for good. He took a job as a schoolmaster in a remote Austrian mountain village, but he proved unfit for the work. Severe, ill-tempered, even brutal, he scolded the children constantly and beat them when they failed to learn their lessons. Not just ritual spankings, but blows to the head and face, angry pummelings that wound up causing serious injuries to a number of children. Word got out about his outrageous conduct, and Wittgenstein was forced to resign his post. Years went by, at least twenty years, if I’m not mistaken, and by then Wittgenstein was living in Cambridge, once again pursuing philosophy, by then a famous and respected man. For reasons I forget now, he went through a spiritual crisis and suffered a nervous breakdown. As he began to recover, he decided that the only way to restore his health was to march back into his past and humbly apologize to each person he had ever wronged or offended. He wanted to purge himself of the guilt that was festering inside him, to clear his conscience and make a fresh start. The road naturally led him back to the small mountain village in Austria. All his former pupils were adults now, men and women in their mid- and late twenties, and yet the memory of their violent schoolmaster had not dimmed with the years. One by one, Wittgenstein knocked on their doors and asked them to forgive him for his intolerable cruelty two decades earlier. With some of them, he literally fell to his knees and begged, imploring them to absolve him of the sins he had committed. One would think that a person confronted with such a sincere display of contrition would feel pity for the suffering pilgrim and relent, but of all of Wittgenstein’s former pupils, not a single man or woman was willing to pardon him. The pain he had caused had gone too deep, and their hatred for him transcended all possibility of mercy.»

(in Paul Aster: The Brooklyn Follies, New York, Picador, 2006, 54-55)

2007-05-01

O Evangelho segundo Jesus Cristo


O romance O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991) tem um título enganador. O Cristo descrito por José Saramago é original e tem pouco a ver com o que encontramos nos evangelhos canónicos – o que, aliás, suscitou as polémicas furiosas que continuam frescas na memória de toda a gente. Mas o maior engano não é esse. Ainda que a vida de Jesus ocupe a parte de leão do texto, o mais importante do livro não está aí. O momento fulcral da obra de Saramago é aquele em que Deus surge e revela os seus desígnios divinos.

Jesus é um interveniente relativamente secundário. O texto di-lo expressamente, ao descrever a sua biografia como «alguns vulgares episódios da vida pastoril» e ao qualificar o filho de José e Maria como «medíocre em vida». Isto é reforçado pelas considerações sobre o livre arbítrio que proliferam ao longo do livro. O Jesus de Saramago é um ser destituído de verdadeira capacidade de escolha: «Deus é quem traça os caminhos e manda os que por eles hão-de seguir, a ti escolheu-te para que abrisses, em seu serviço, uma estrada entre as estradas.» O verdadeiro protagonista deste Evangelho não é Jesus, mas o próprio Deus.

Deus é, na verdade, um protagonista magnífico. Desde logo, pelo seu carácter misterioso: a Bíblia contém muito pouco que se possa considerar filosofia e o Deus do Antigo Testamento nada esclarece sobre as contradições da vida. A maior perplexidade de todas talvez seja a do sofrimento no mundo. Se Deus é perfeito e criador de todas as coisas, parece inaceitável que o mal exista e que esse mesmo Deus seja imune ao sofrimento de que é causa. Para um ateu declarado como Saramago, é incompreensível que as pessoas se ajoelhem perante uma divindade destas: «O inferno é este planeta onde vivemos, onde sofremos, onde cremos.»

Tudo isto desarma os censores do Evangelho. Não há aqui qualquer «anti-teologia de larga audiência». José Saramago limita-se a transportar para o seu romance algumas das dificuldades fundamentais dos homens na sua relação com Deus. O autor fê-lo na forma e no momento certos. Não só porque a literatura é o espaço adequado para abordar os grandes temas teológicos e filosóficos junto do homem comum, mas também porque o seu ateísmo lhe dá uma legitimidade acrescida para escrever sobre a religião. Tal como os melhores cronistas de um país são os estrangeiros, também o distanciamento de Saramago lhe confere mais objectividade e lucidez.

2007-04-27

Hal Hartley

«An honest man is always in trouble.»

«Um homem honesto está sempre em apuros.»

2007-04-05

Lisa 9

Mein Lieblingsblog aus Deutschland: Lisa 9.

O meu blogue da Alemanha preferido: Lisa 9.

2007-03-25

Cine 7

A nossa querida Isabel Fernandes convidou-me para colaborar com o melhor blogue português de cinema: o Cine 7. Eu, obviamente, não me fiz rogado.

2007-03-17

Lola rennt


O filme Lola rennt (1998) foi inspirado pela ciência do caos. O crítico Jürgen Müller assinalou-o com toda a argúcia, ao escrever que a famosa obra-prima do alemão Tom Tykwer «é um filme filosófico, uma ilustração da teoria do caos, um jogo com o que aconteceria se…». Isto faz de Lola rennt uma obra em plena sintonia com o nosso tempo, porque o estudo do lado irregular do universo já é uma conquista consolidada do pensamento científico. Mas há uma vantagem do caos relativamente às outras duas grandes revoluções das ciências físicas do século XX – a relatividade e a mecânica quântica – que o torna tão apetecível para um cineasta: a sua escala humana. A física tradicional afastou-se demasiado do mundo reconhecível pelo homem, mas a teoria do caos aplica-se a objectos do quotidiano que todos nós podemos ver e tocar.

Um dos elementos principais do movimento caótico é o chamado efeito borboleta. O simples batimento de asas de uma borboleta pode pôr em movimento uma série de alterações na atmosfera que conduzam à formação de um tornado. Ou seja, pequenas variações da condição inicial de um sistema dinâmico podem produzir alterações drásticas no comportamento de todo esse sistema. Tom Tykwer propõe-nos um modelo que tem o interesse acrescido de utilizar pessoas de carne e osso. Na nossa vida, tal como na ciência, uma sequência de acontecimentos pode ter um ponto crítico capaz de ampliar as pequenas alterações. Mas o caos significa que esses pontos estão por todo o lado: «Todos os dias, a cada segundo, podes tomar uma decisão que mudará para sempre a tua vida», escreve Tykwer.

O conjunto dos rumos de vida possíveis é uma espécie de árvore de decisão vital e Lola rennt permite que vislumbremos alguns dos seus ramos. O filme divide-se em três realidades possíveis e da junção das três salta à vista como pequenas perturbações num ponto qualquer da árvore da decisão vão abrindo brechas cada vez mais profundas entre os diversos rumos vitais praticáveis: uma viagem de metro, uma ida ao banco ou um telefonema podem significar a diferença entre a vida e a morte para os protagonistas. Mas qual dessas realidades é a real: apenas uma, todas ou nenhuma? Um filósofo como Jean-Paul Sartre diria que a existência de uma pessoa se reduz ao itinerário que percorre, pois nós somos apenas o conjunto dos nossos actos. Mas esta visão das coisas é demasiado restritiva. Talvez sejamos feitos em igual medida daquilo que fomos e do que poderíamos ter sido, como afirma o próprio Tykwer: «Para mim, Lola rennt é uma viagem contínua, em que o mais importante é que o espectador sinta que a Lola viveu efectivamente as diversas possibilidades que são mostradas no filme».

2007-03-16

Famafest 2007

Let's look at the festival: Famafest 2007, uma excelente iniciativa do Lauro António e outros teimosos.

2007-03-04

Peter O'Toole

Os novos critérios para a atribuição de um óscar, segundo o blogue A Sexta Coluna: a taxa de alcoolemia no sangue e as manchas de fígado.

2007-02-26

Óscares 2007


A vitória do Forest Whitaker, que já tardava, foi o momento alto da noite. Isto significa que o grande Peter O'Toole volta para casa com as mãos a abanar, mas a decisão da Academia foi justa, tal como foi justa a vitória da Juliette Binoche sobre a Lauren Bacall: o óscar deve premiar, acima de tudo, a melhor interpretação do ano e não o currículo mais volumoso ou a personalidade mais glamorosa. Se fosse em Portugal, o O'Toole teria ganho, mas os americanos tomaram a decisão correcta. As mais elegantes: Gwyneth e Beyoncé. Martin Scorsese: está bem.

2007-02-20

Poverty in America

«America is the wealthiest nation on Earth, but its people are mainly poor, and poor Americans are urged to hate themselves. To quote the American humorist Kin Hubbard, "It ain't no disgrace to be poor, but it might as well be." It is in fact a crime for an American to be poor, even though America is a nation of poor. Every other nation has folk traditions of men who were poor but extremely wise and virtuous, and therefore more estimable than anyone with power and gold. No such tales are told by the American poor. The mock themselves and glorify their betters.»

«In the U.S., no one starves to death (except fashion models ;) ). No one is refused emergency medical care. No one is forced to sleep out of doors. But in the U.S. we also don't deny people the right to really screw themselves up. We are hesitant to restrict people's right to beg on the street (for some this is their chosen means of support, others are mentally ill but refuse treatment in state institutions).»

«The Mayor of Las Vegas (Goodman) has issued an edict that declares that poor people can no longer be given food in parks. People who have done it have been arrested.»

«I saw a homeless guy in Manhattan with a sign that said "Need money for beer". :D»

«The number of Americans living in poverty jumped to 35.9 million last year, up by 1.3 million, while the number of those without health care insurance rose to 45 million from 43.6 million in 2002.»

«The average home owned by a person classified as "poor" has three bedrooms, one-and-a-half baths, a garage, and a porch or patio.»

«We'll see how successful this economy is when it crashes. It will, because you can't ignore the skyrocketing number of poor/poverty level people. This country is founded upon the working middle class and they are swiftly disappearing. They have no health insurance, no retirement and no prospects for improvement. What happens when they all start needing benefits? A crash is coming, it's just a matter of when.»

«Welp, all I can say is that 'lost' 18 billion loaded up on trucks to go to Iraq could have helped quite a bit with the poverty in America!»

«I support the war, not Bush. All of our politicians are full of ****.»

«And if ya need halp to pay off that $30 grand MichiganMan? I know a great place to go: WWW.GOARMY.COM They got bonuses of up to $30,000 if you qualify.. ;)»

«But I also think it is a dream to believe any society can provide an absolute safety net for every single member of society. If there is no danger of falling into the lower class, the poor if you will, then for a vast majority of people, in my opinion, there would be little insentive to try and excel in life. This is what communist nations have found is the result of communal farming - the farmers don't try really hard if everything beyond their own needs is taken and redistributed to others who need the food.»

«The Actual Cause of Poverty: Bad Choices. Per the Chicago Sun-Times: http://www.manhattan-institute.org/html/_chicsuntimes-the_truth_about_poverty.htm»

«So now somebody comes along and says this is because of "poor decisions". To that, I want to say that you need to shove your ignorance up your arse and go out and see what is REALLY going on in the world. Our system is pretty good. Most people can make it through hard work. I was one of them once. But there is a loophole. Don't get sick. Even with insurance the medical costs alone will bury you financially. Don't get sick, because NOBODY cares, and a LOT of people will actually PROFIT off of you because of it.»

«But even where people find themselves in desperate situations in the U.S., it is not a permanent situation (unless it is a choice or due to mental illness or addiction).»

«Since im a Member of the Seminole Indian tribe, i assure you that your quote: "Americans have learned to look out for themselves for 200+ years." Makes us shake our heads.»

«Just about everyone I've ever met in my life is where they are supposed to be financially. This includes myself. I could have much more if that was what I desired. But I would rather be a musician with less than a suit-wearing, 16 hour a day working executive with more. I realized early in life that the money I made was going to be the last thing on my mind when lying on my deathbed remembering my life. Money does NOT = happiness. This has been proven so many times it's ridiculous...but people still think otherwise.»

«When Katrina is brought up as "evidence" that American treats it's poor poorly or that "Bush hates black people" -- it presents a false and ignorant picture. Anyone who'd claim the Bush Administration is any more or less responsible for the mess than Mayor Nagen or the Governor of New Orleans is playing partisan politics. And anyone who thinks everyday Americans aren't giving or sympathetic or generous when it comes to poverty in their country is selling something.»

«I live in New Orleans, where the government has never cared about poor people. Now, people say they care (or that God's wrath has been imposed on us somehow) but then don't think any more about it. So, nothing has been done, and New Orleans is a mess.»

«I don't even know a McDonald's job that starts at minimum wage. Walmart employees strt at 8 or 9 dollars an hour, and you quickly move up from there if you are at all diligent at your job. Have you looked for work recently? Have you ever had a job?»

«The kid that mows my lawn gets $20 for 2 hours work for christs sake.»

«Don't play that card, John Kerry has more money than the whole Bush family. They're all crooked bastards.»

«We'll still actually tell someone that we are "poor" and blame some mythical "rich man" for all our fabricated problems. (That those caveman ancestors would love to have.)»

«I also find the notion that we are generally better off then throughout history a good thing, a little disturbing. Why is the PAST our bar of excellence? Where should we set it? During the black plague? During World War II? Hey, poor Jews today have it a LOT better then back then right!? (Obvious sarcasm.)»

«OSLO, Norway (AP) — The United Nations ranked Norway as the best country to live in for a sixth consecutive year Thursday, prompting the country’s aid minister to tell Norwegians to stop whining about wanting more.Oil-rich Norway, with its generous welfare state, topped the U.N. Development Program’s human development index, based on such criteria as life expectancy, education and income. Iceland was No. 2, followed by Australia, Ireland, Sweden, Canada, Japan and the United States.»

«Ive lived in Germany under the "socialist lite" country and its got its good points like the full coverage health care, and its bad points like they take 45% of my paycheck right off the bat for all the benefits i get later..»

2007-02-16

Grandes Queridas (ii)


Simone de Oliveira: «Quem faz um filho, fá-lo por gosto.»

Simone de Oliveira: «Wer ein Kind macht, macht es aus Spass.»

2007-02-13

Belarmino


O começo do filme Belarmino (1964) é surpreendente. Ouvimos dizer em off que o protagonista poderia ser um pugilista excepcional, mas que na realidade não o é: «Podia ter sido um grande pugilista, dos melhores da Europa, talvez até campeão dos meios leves e agora é quase um punching ball: Belarmino Fragoso». A locução inicial do Baptista Bastos dá o mote para todo o filme, porque o excelente documentário de Fernando Lopes fala apenas de uma eventualidade: não se descreve um campeão de pugilismo que tenha efectivamente existido, mas apenas aquele que poderia ter existido. Isto é, no mínimo, curioso. Parece estranho que o filme seja anunciado como um documentário e ainda mais insólito que o realizador tenha escolhido um protagonista aparentemente tão desinteressante e até desprezível.

Belarmino tem inúmeros defeitos e o pior deles é a falsidade. O senhor mente com o atrevimento mais descarado e tem o péssimo hábito de alijar responsabilidades: quando é questionado sobre o seu fiasco no ringue do Albert Hall perante um pugilista de segunda, ele desencanta uma história disparatada de corrupção e compadrio. Porém, as mentiras não nos incomodam por aí além. Não só porque o filme do Fernando Lopes deixa claramente à vista o que é ou não patranha, mas também porque a própria inépcia do Belarmino se encarrega de o denunciar, um pouco como a criança que diz ‘não fui eu’ com a boca lambuzada de doces. Aceitamos as mentiras do Belarmino Fragoso e até simpatizamos com elas, pela sua candura e ingenuidade. Mas não só.

O Belarmino seria um indivíduo risível em qualquer outro país do mundo, mas em Portugal é um campeão. Mais do que simples simpatia, existe entre ele e o público português uma verdadeira empatia: uma fusão emocional, uma adesão de sentimentos que se estabelece entre espectador e personagem de tal modo que parece dar-se entre os dois uma espécie de identificação ou projecção. Os portugueses reconhecem-se nas mentiras do Belarmino e na sua esquiva permanente à realidade, porque se há coisa que fazemos bem é não querer ver as coisas como elas são. A este respeito, uma diplomata francesa descreveu o nosso povo como «os chineses do ocidente», porque os chineses nunca vão directamente ao assunto, dão inúmeras voltas antes de lá chegar e sempre em termos pouco claros.

Além do seu feitio esquivo, há outras características do protagonista que são muito nossas: a mediocridade, a ignorância, a gabarolice e a indisciplina. Tudo isto faz do Belarmino um case study, um representante da mentalidade dos portugueses e do seu proverbial «medo de existir», uma figura tão típica e característica como o galo de Barcelos, o Zé Povinho ou o caldo verde. A condição portuguesa é o verdadeiro assunto de Belarmino e não apenas a vida de um pugilista falhado. Daí o valor documental do filme do Fernando Lopes, porque descreve com verdade e rigor a mentalidade de um povo. Se o realizador encena ou falseia alguns detalhes da vida do protagonista (algumas sequências, como a chegada aos treinos no Sporting ou o engate nos Restauradores, são manifestamente encenadas) é apenas para que se registe com mais fidelidade essa verdade maior.

2007-02-08

Brasil


Acho que me apaixonei pelo Brasil.

Ich glaube, ich habe mich in Brasilien verliebt.

2007-01-22

Grandessíssimos Portugueses

Carolina Salgado

Miss Ágata, travesti

Carla Quevedo, cronista

José Maria Martins, advogado

Maria João Lopo de Carvalho, escritora

Gisela (Gi) Borges, ex-apresentadora

Vítor Ilharco, super burlão

Rita Vieira, actriz porno

Eurico Cebolo, escritor

Leonel Nunes, cantor pimba

2007-01-16

Djambadon

A maravilhosa poesia da Guiné: Djambadon, do meu amigo Adão Quadé.

Die wunderschöne Poesie aus Guinea: Djambadon von meinem Freund Adão Quadé.

2007-01-13

Quality Street

Britain has given us many wonderful things: remarkable poets, charismatic political leaders, great cars and... Quality Street. This popular selection box of individual sweets manufactured in Halifax, in the United Kingdom, has become a symbol of British excellence. Like Britain, Quality Street is a successful combination of tradition and innovation, of uniqueness and variety. The sweets within the box have changed and evolved over the years and the collection now includes 15 different flavours. Unlike the detestable sea shells from Belgium, each sweet offers a new mouth-watering experience and has a different story to tell. We all love a good story. Whenever that delightful tin is opened, people of all ages instantly dive in, searching for their favorite. Quality Street thus becomes more than a mere box of chocolates. It is a celebration of life, friendship and family.

Alberto João Jardim (ii)

A minha sugestão para o Dr. Alberto João Jardim após o desastroso acórdão do Constitucional: ou proclamamos independência, ou mandamos Portugal à merda e arranjamos uma potência colonizante como deve ser.

2007-01-10

British Actors and Actresses

Judi Dench

Helen Mirren

John Gielgud

Emily Watson

Ralph Fiennes

Derek Jacobi

John Hurt

Nigel Hawthorne

Cedric Hardwicke

Stephen Fry

Kenneth Branagh

Anthony Hopkins

Emma Thompson

Laurence Olivier

Charles Laughton

Dame Mae Witty

Colin Firth

Daniel Craig

Gary Oldman

Tim Roth

Kate Winslet

Michael Caine

Alan Rickman

2007-01-05

Christa Wolf


O romance Cassandra (1983), de Christa Wolf, é uma obra surpreendente. O livro de Wolf é anunciado como um retrato grandioso da sociedade do seu tempo, mas o texto parece ter muito pouco a ver com a Guerra Fria ou a antiga Alemanha de Leste. Ao invés, o romance transporta o leitor para o tempo mítico da cidade de Tróia e descreve os últimos dias da sacerdotisa Cassandra. Isto suscita duas grandes questões: o que levou Christa Wolf a recorrer à mitologia grega? E como se explica que tenha escolhido para protagonista uma figura obscura e secundária como Cassandra?

Christa Wolf conhece bem o poder dos mitos. Eles são criações puramente lendárias ou fantasiosas e não pretendem narrar dados factuais; contudo, reconhecemos neles os modelos dos homens e mulheres de todas as épocas históricas. Os temas da mitologia podem, por isso, ser incrivelmente sedutores para um escritor. No caso de Christa Wolf, a opção pela mitologia grega serve excelentemente os propósitos da autora: os mitos de Homero são suficientemente distantes para evitar os perigos de uma abordagem demasiado evidente da questão alemã, mas também suficientemente próximos para serem compreendidos e apreciados pelos leitores dos nossos dias.

Christa Wolf crê que as causas da situação política precária do seu tempo remontam às próprias origens da sociedade ocidental, ao tempo mítico em que os príncipes gregos impuseram a cultura do patriarcado, autoritária e violenta. Um modelo destes não se adequa ao pensamento pacifista e feminista de Christa Wolf, que introduziu mudanças importantes: a arete masculina é substituída pela sensibilidade e intuição das mulheres e a protagonista ideal é Cassandra, já que a autora vê nela um retrato da condição feminina. Claro que os fãs de Homero não devem ficar desapontados, porque nunca há uma versão ortodoxa ou única de um mito. Longe de contestar a validade dos poemas homéricos, a obra de Wolf vem, pelo contrário, completar, enriquecer e actualizar o seu legado.

Com o romance Medeia (1996), Christa Wolf regressa à mitologia grega e prossegue a sua pesquisa pela paz. O livro é emocionante e arrojado, mas esperávamos muito mais de Wolf. O maior crime da autora terá estado na dispersão do texto por diversas vozes narrativas: em lugar do longo monólogo interior de Cassandra, a escritora dá agora voz aos diversos protagonistas do mito. Perdemos assim a simbiose extraordinária entre autora e protagonista, aquela ligação complementar entre ambas que fez de Cassandra uma obra tão especial e autêntica.

2007-01-03

Johann Sebastian Bach

Für ein erfolgreiches Leben, wählen Sie Johann Sebastian Bach.

Para uma vida de sucesso, escolha Johann Sebastian Bach.

Arquivo do blogue