2007-11-30

Países terríveis: Portugal (iv)

Não há nada mais português que a cunha. A cunha consiste na recomendação de uma pessoa influente e está profundamente entranhada nas mentalidades e nos hábitos dos portugueses. No nosso país, não é possível fazer o que quer que seja sem ela. Não se consegue arranjar um emprego decente, ganhar um concurso público ou obter colocação na faculdade de medicina sem meter uma cunha; o mérito individual conta pouco ou quase nada. Isto demonstra que o pensamento moral predominante entre nós é o da parcialidade. A generalidade dos portugueses supõe que a moralidade começa com os deveres com amigos, familiares e colegas e mais do que isso não é necessário. Porém, um raciocínio moral destes é insuficiente. Para realmente sermos pessoas decentes, devemos procurar ser imparciais, porque o bem-estar de cada pessoa é igualmente importante e todos são igualmente dignos de respeito.

A mentalidade dos nossos empresários é um caso flagrante de parcialidade. Ao contrário do que ocorre na maioria das economias de mercado do mundo, nas grandes empresas portuguesas é o princípio da cunha que rege a gestão e transmissão de poder. Enquanto que normalmente as direcções e os dirigentes dos grandes grupos internacionais são escolhidos segundo o mérito dos candidatos, em Portugal o que conta quase sempre é a sua origem e o seu apelido. A continuidade das empresas familiares é um objectivo abertamente assumido pelas famílias abastadas, que constituem as elites económicas, sociais e por vezes também políticas de Lisboa e Porto. Partilham interesses, ideais e modos de comportamento. E formam uma rede estreita de interesses, que dificulta o acesso do exterior.

8 comentários:

Anónimo disse...

Sem comentário. Concordância total.
Tudo verdade. Branco no preto.
Um belíssimo texto.
O Flávio escreve muito bem e com clareza, os meus parabéns.

Flávio disse...

Bem-vinda Verónica, obrigado pela visita.

i disse...

Se os franceses nos tivessem descobertos, estaríamos tão bem quanto o Haiti...

Fora o Vasco de São Januário e a profusão de cartórios, não tenho muito a reclamar das coisas que herdamos de vós!

Um abraço!

CORTO MALTESE disse...

"...que dificulta o acesso do exterior" a quem não tem cunha!
;)

Anónimo disse...

palhaço de merda, o teu blog não vale a ponta dum corno. só fazes perder tempo às pessoas.

acaba com esta merda, seu traste, e poupa-te à humilhação.

Flávio disse...

Isto quer dizer que não gostaste do bolinho de Natal?

Anónimo disse...

Flávio, e o senhor, a quem é que mete as suas cunhas? Isso é que nos interessa!

Flávio disse...

Eu?! Como diz o outro, quem não tem dinheiro, não tem vícios.