2007-11-30

Países terríveis: Portugal (iv)

Não há nada mais português que a cunha. A cunha consiste na recomendação de uma pessoa influente e está profundamente entranhada nas mentalidades e nos hábitos dos portugueses. No nosso país, não é possível fazer o que quer que seja sem ela. Não se consegue arranjar um emprego decente, ganhar um concurso público ou obter colocação na faculdade de medicina sem meter uma cunha; o mérito individual conta pouco ou quase nada. Isto demonstra que o pensamento moral predominante entre nós é o da parcialidade. A generalidade dos portugueses supõe que a moralidade começa com os deveres com amigos, familiares e colegas e mais do que isso não é necessário. Porém, um raciocínio moral destes é insuficiente. Para realmente sermos pessoas decentes, devemos procurar ser imparciais, porque o bem-estar de cada pessoa é igualmente importante e todos são igualmente dignos de respeito.

A mentalidade dos nossos empresários é um caso flagrante de parcialidade. Ao contrário do que ocorre na maioria das economias de mercado do mundo, nas grandes empresas portuguesas é o princípio da cunha que rege a gestão e transmissão de poder. Enquanto que normalmente as direcções e os dirigentes dos grandes grupos internacionais são escolhidos segundo o mérito dos candidatos, em Portugal o que conta quase sempre é a sua origem e o seu apelido. A continuidade das empresas familiares é um objectivo abertamente assumido pelas famílias abastadas, que constituem as elites económicas, sociais e por vezes também políticas de Lisboa e Porto. Partilham interesses, ideais e modos de comportamento. E formam uma rede estreita de interesses, que dificulta o acesso do exterior.

2007-11-26

Homens

Os homens quando se juntam
Para tomar um copo de vinho
Começam no Santo António
E acabam no São Martinho.

2007-11-25

Vasco Pulido Valente (ii)

O Vasco Pulido Valente volta a aborrecer as pessoas com as suas críticas literárias, mas desta vez tem a honestidade de dizer que o verdadeiro objecto do seu artigo não é o livro Rio das Flores, mas o seu autor, Miguel Sousa Tavares. (in PÚBLICO, 24.11.2007)

2007-11-24

Mulheres

As mulheres quando se juntam
Para falar da vida alheia
Começam na lua nova
E acabam na lua cheia.

2007-11-10

The Last Supper

The world's greatest masterpiece under the microscope: Leonardo da Vinci's The Last Supper.

2007-11-08

Hot Fuzz


Hot Fuzz (2007) foi uma aposta arriscada. Ainda que o novo filme da dupla Simon Pegg e Edgar Wright não fosse uma sequela de Shaun of the dead, as comparações entre as duas obras eram inevitáveis. Não é fácil suceder a um filme que foi descrito por muita gente como o melhor filme de zombies depois da trilogia de George Romero. Se Pegg e Wright quisessem reconquistar o seu público, não lhes bastaria ser muito bons, teriam de ser ainda melhores do que já tinham conseguido antes. Felizmente, Hot Fuzz não desiludiu os fãs, bem pelo contrário. O filme é excelente e chega mesmo a suplantar o seu predecessor.

Ambos os filmes deixam o espectador perplexo. São duas obras que juntam géneros, formas e referências das proveniências mais estranhas: Shaun of the dead é descrito pelo próprio Edgar Wright como a primeira zom com rom ou comédia romântica de zombies, enquanto que Hot Fuzz hesita entre a acção, a comédia, o terror e a telenovela. Porém, o segundo filme é melhor, maior e mais ambicioso. Se o primeiro poderá ser uma mistura demasiado exótica e extravagante para o gosto de alguns, já Hot Fuzz é um filme superior pela musicalidade do seu conjunto, mais regrado e equilibrado. E essa sua superioridade começa na própria fonte: os filmes de acção.

Os filmes de acção ocupam um lugar único na história recente do cinema. Os géneros cinematográficos têm evoluído no sentido de uma especialização cada vez maior, mas o cinema de acção tem seguido o caminho inverso e atraído para o seu interior as formas mais diversas. É sobretudo a partir dos finais dos anos 80 que realizadores como James Cameron e John McTiernan dão início a este movimento expansionista: Aliens é protagonizado por uma mulher comum; em Predator, o inimigo já não é um governo estrangeiro mas uma criatura de outro planeta; e em Die Hard, a psicologia das personagens é mais importante que o espectáculo pirotécnico.

A etapa mais recente deste fulgurante processo evolutivo é Hot Fuzz, que leva ainda mais longe a versatilidade natural do cinema de acção. O filme aposta em inúmeras frentes e ganha em todas. Os espectadores mais atentos tirarão grande prazer na descoberta das inúmeras citações, evocações e paródias. Mas ainda que a riqueza de referências impeça uma categorização fácil, Hot Fuzz não deixa de ser, assumidamente e sem complexos, um verdadeiro filme de acção. O núcleo duro do género está lá, cuidadosamente preservado: as sequências de acção espectaculares, emocionantes e admiravelmente coreografadas. A sua violência estilizada pouco ou nada fica a dever, em engenho e divertimento, às maiores produções americanas.

2007-11-05

Clive Barker

Das letzte Meisterwerk von Clive Barker ist kein Buch: Jericho.

A última obra-prima de Clive Barker não é um livro: Jericho.