2005-04-04

Os filhos de Sousa Mendes

Um dos factos mais fascinantes na vida de Aristides de Sousa Mendes é a fuga dos seus filhos para Portugal. O nosso cônsul em Bordéus foi, além do diplomata que salvou do Holocausto mais de 30.000 pessoas, o pai protector e exemplar de uma família numerosa: nada menos que oito filhos e quatro filhas, com idades entre os 8 e os 30 anos. Quando a guerra rebentou na Europa, como é que se poderia transportar toda esta família em segurança de Bordéus até Portugal? A solução estava num Ford familiar de 17 lugares, feito por encomenda e coloridamente baptizado de Expresso dos Montes Hermínios. Porém, aquela viagem de carro seria diferente de todas as outras: o Ministério dos Negócios Estrangeiros não a tinha autorizado e, se fossem descobertos pelas autoridades, o cônsul seria acusado de abandonar o posto. Mesmo assim, Sousa Mendes partiu com os filhos. Após a travessia da ponte internacional que ligava a cidade fronteiriça de Hendaye à sua congénere espanhola, Irún, encontraram um cenário desolador: a Espanha era um país destroçado por quase três anos de uma guerra civil fratricida e proliferavam carências de toda a espécie. Sousa Mendes queria parar tão poucas vezes quanto possível, mas um acidente perto de Salamanca obrigou-o a interromper a viagem: ao descer de uma colina, o Ford tombou de lado, resvalou na estrada e virou-se completamente. Felizmente, os ferimentos não eram graves. Seguiu-se uma série de encontros bizarros: primeiro, com uma limusina do corpo diplomático que lhes forneceu o estojo de primeiros socorros de que necessitavam; depois, com uma carrinha de freiras espanholas que perguntaram, ingenuamente, se estavam a reparar um pneu; e finalmente, com Doña Cármen Pólo y Martinez Valdés mais a sua jovem Carmencita, mulher e filha do Generalíssimo Franco! Após uma tarde de espera ao sol, veio ajuda e os filhos de Sousa Mendes chegaram sãos e salvos à aldeia de Cabanas de Viriato.

4 comentários:

Roberto Iza Valdés disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
António disse...

Cabanas de Viriato e a Casa do Passal,
É urgente recuperar a memória de um homem bom.
É urgente recuperar a casa do Passal.
http://antoniopovinho.blogspot.com/2005/10/cabanas-de-viriato-e-casa-do-passal.html

Flávio disse...

Chez moi, vous êtes toujours bienvenus, Roberto et António.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.