2004-07-04
Lost In La Mancha
Miguel de Cervantes, Terry Gilliam e Johnny Depp juntos parecem ser o dream team de qualquer produtor cinematográfico. Cervantes é o soldado romancista que Dostoievski descreveu como «o génio máximo da literatura universal»; Gilliam é o criador de alguns dos filmes mais filosóficos e visualmente sumptuosos de sempre, assim como dos magníficos bonecos animados que fizeram a imagem de marca dos Monty Python; Depp, o eterno menino bonito de Hollywood, é o actor mais carismático dos nossos dias e um profissional que, ao contrário de Brando, sabe escolher com inteligência e sensatez os projectos em que participa. A surpreendente realidade, porém, é que da conjugação de tanto talento resultou um dos maiores fiascos de sempre: o filme The Man Who Killed Don Quixote nunca chegou a ser terminado e ficou-se por um punhado desgarrado de imagens.
Lost in La Mancha (2002) é o excelente documentário que testemunha o esboroar deste projecto e se questiona sobre as razões de tão inusitado fracasso. Quando os seus jovens realizadores Keith Fulton e Louis Pepe chegaram aos estúdios de Quixote, em Madrid, estavam seguramente longe de imaginar o que estava para vir. As coisas até começaram bem, com as filmagens da investida dos gigantes, os ensaios das marionetas e as conferências apaixonadas dos actores em torno do guião – «quero sentir não apenas que interpreto, mas que sou verdadeiramente Dom Quixote», disse um inspirado Jean Rochefort.
O desastre estava, todavia, à espreita: a equipa multilingue logo se debateu com problemas de comunicação; os actores começaram a ausentar-se à medida que a produção se atrasava; tudo parecia ameaçar a ambiciosa empresa, desde cavalos mal treinados até à próstata problemática do protagonista ou um estúdio de som que não era verdadeiramente à prova de som. Ao sexto dia de rodagem, o pior acontece e uma tempestade obriga Terry Gilliam a arrumar definitivamente as câmaras. Felizmente para nós, o ex-Python fez jus à sua reputação de gajo porreiro e consentiu que tudo isto fosse filmado por Fulton e Pepe: «algum filme terá de sair de toda esta embrulhada e tudo indica que não vai ser o meu, por isso continuem a rodar!», chegou a afirmar Gilliam. O documentário veio a ser concluído com sucesso e é hoje considerado o primeiro un-making of da história da cinema!
A grande lição que deve ser retirada deste Lost In La Mancha é que o cinema é uma arte pragmática. Para fazer filmes são imprescindíveis não só boas ideias (e Gilliam tem-nas!), mas também meios avultados e racionalidade no seu emprego. É particularmente importante a pré-produção, fase em que se preparam todos os elementos necessários à feitura do filme: locais de filmagem, orçamento, guarda-roupa ou cenários. Bons planeamentos resultam em filmagens tranquilas e aqui terá residido o grande erro de Terry Gilliam. Por exemplo, enquanto que quase todas as produções reservam 10% dos seus orçamentos para um fundo de contingência, Gilliam não poupou um cêntimo que fosse, de modo a não sacrificar nada da sua visão; a teimosia viria a revelar-se fatal e obrigou a que as filmagens não pudessem ser suspensas, mesmo na iminência de uma tempestade.
As razões que estiveram na origem do fracasso desta aventura foram, por tudo isso e paradoxalmente, as mesmas que notabilizaram Gilliam: a sua megalomania e carácter impulsivo, sonhador, desfasado da realidade – numa palavra, quixotesco. Gilliam é um homem inteligentíssimo e terá seguramente aprendido a lição. Oxalá que o talentoso realizador continue no encalço dos seus moinhos de vento, mas, da próxima vez, que o faça com os pés mais assentes no chão!
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