O thriller Sala de Pânico (2002), do excelente David Fincher, pertence àquela categoria pouco abonatória de obras cinematográficas que François Truffaut baptizou como «grandes filmes doentes»: obras-primas abortadas, empresas ambiciosas que sofrem erros de percurso graves. No caso de Sala de Pânico, o mal esteve sobretudo no argumento de David Koepp, mas algumas medidas profiláticas muito simples poderiam ter evitado a dita doença ou, pelo menos, aliviado os seus sintomas. Uma primeira possibilidade, não explorada, seria levar ainda mais além a unidade de lugar: porque não situar os dois primeiros actos exclusivamente no interior da sala blindada? A opção é arrojada, mas resultaria em mais emoção, mais suspense e mais empatia com as duas heroínas aprisionadas. As aselhices do guionista prosseguiram com os três vilões ineptos e trapalhões, que dificilmente poderiam constituir uma ameaça credível. Finalmente, fundamentar o divórcio de Jodie Foster na infidelidade do marido (em vez da sempre pertinente violência doméstica) foi outro erro, pois fez da protagonista uma mulher neurótica e pueril e indigna de encabeçar um filme de Fincher.
2 comentários:
Realmente desilude, tendo em conta filmes excelentes como "Fight Club"...
Disseste muito bem, Gonn1000: uma desilusão. Mas estou aqui a pensar se essas aparentes falhas de que falei não serão intencionais e se não haverá mais neste filme do que parece à primeira vista. Acho incrível que um argumentista tão talentoso como o Koepp não tenha dado por elas. Um grande abraço!
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