2005-02-22

Aristides de Sousa Mendes


Ainda há muitos portugueses que não sabem quem foi Aristides de Sousa Mendes. Porém, o nosso País deve-lhe imenso. As suas decisões enquanto cônsul de Portugal em Bordéus representaram, muito provavelmente, a maior acção de salvamento por um único indivíduo durante o Holocausto. Tudo começou em Maio de 1940, quando Sousa Mendes foi confrontado com um dilema doloroso: obedecer às ordens de Salazar e negar os vistos portugueses aos refugiados que chegavam a Bordéus, ou seguir o apelo da sua consciência e emitir os vistos que significavam a diferença entre a vida e a morte para muitas pessoas, sobretudo judeus. Sousa Mendes tinha tudo a perder: o apreço do regime de Lisboa, uma carreira diplomática de 30 anos e sobretudo a segurança dos 12 filhos que tinha a seu cargo. Mesmo assim, optou pelo mais difícil e, ao arrepio das advertências que chegavam do gabinete de Salazar, decidiu ajudar os fugitivos que se acumulavam à porta do seu consulado.

Quando Aristides de Sousa Mendes regressou a Portugal em 9 de Julho de 1940, aguardava-o uma ironia terrível: o diplomata, que havia auxiliado milhares de refugiados, tornava-se agora, também ele, num refugiado. Salazar, que nunca teve sequer a dignidade de conceder uma audiência ao cônsul, foi implacável e não lhe perdoou a audácia. Depois de um processo disciplinar miserável, veio o desemprego, a pobreza e o desespero. Nos momentos de maior angústia, Sousa Mendes foi forçado a recorrer à sopa dos pobres judaica para poder alimentar a família. Mais: finda a guerra, Salazar colheu com enorme hipocrisia os louros do auxílio a milhares de estrangeiros, um mérito que na realidade nunca pertenceu ao regime mas sim a Sousa Mendes e ao povo português. O cônsul morreu a 3 de Abril de 1954, arruinado mas de consciência tranquila, no Hospital da Ordem Terceira, uma clínica gratuita para os pobres dirigida pelos Franciscanos.

8 comentários:

Milan disse...

Sousa Mendes é talvez o herói mais universal do séc XX português, e não só. Um exemplo maior de humanidade, de que nos devíamos orgulhar mais vezes e conhecer melhor. Estranhamente, nunca ninguém pensou em levar a história da sua vida à tela (em TV, so me lembro do documentário da Diana Andringa, aí por 1993/94). Daria um filme épico.

Afonso Henriques disse...

O tempo que demorou o regime republicano pós-25 de Abril a reabilitar o nome de Aristides de Sousa Mendes é sintomático da tacanhez de espírito dessa "gente progressista",da cumplicidade vergonhosa que muitos dos "libertadores" ainda têm para com a II República do Estado Novo, da mentalidade anti-semita e da vergonha que o poder republicano instituído tem da História de Portugal.

Flávio disse...

Milan, obrigado pela info preciosa do documentário, que ainda não vi. Afonso Henriques, tens toda a razão e mais alguma quando falas dos entraves à merecida reabilitação de Sousa Mendes. É uma vergonha. Um dos principais responsáveis foi nada menos que o então primeiro ministro Cavaco Silva. Espero que não tenha sido alguma secreta simpatia pró-nazi do nosso futuro Presidente...

Um abraço!

Milan disse...

Flávio, é um grande documentário para a RTP 2, feito pela Diana Andringa - e que recebeu alguns prémios jornalísticos na época. Andringa entrevista vários dos sobreviventes que conseguiram obter o visto em Bordéus e conseguiram escapar para a América. É um belíssimo documento, que também traça o perfil de Sousa Mendes, do seu humanismo e das suas profundas convicções cristãs (que não lhe permitiam ficar de braços cruzados perante tanto desespero) e conta sobre a miséria e o desprezo a que foi votado em Portugal por tê-lo feito. Há coisas na Net sobre esse documentário (corre o Google). Dá um pulo na RTP e pergunta se te permitem visionar. Lembro-me que o gravei na época, mas até dar com a cassete... Prometo passar-te isso para um disco DVD se alguma vez der com ele. Tenta a RTP de qualquer forma.

António disse...

Salvem
a casa do Passal
Salvem a memória de um homem justo.
http://antoniopovinho.blogspot.com/2005/10/cabanas-de-viriato-e-casa-do-passal.html

Anónimo disse...

a dren, e suponho que também dres, drec, dreal, etc têm centros de recursos que fazem cópias destes documentários.

Micas10 disse...

http://www.soroptimist-israel.org/international/asm_testimonial.htm

Anónimo disse...

Keep up the good work »