José Pacheco Pereira tem sido um crítico implacável do excesso de futebol na sociedade portuguesa e, por uma vez, devo subscrever as palavras do controverso comentador. «Nenhum país civilizado, e em muitos deles o futebol é uma paixão nacional, dá este tempo e estes recursos a uma actividade que acaba, pelo excesso, por ser um factor do nosso desinteresse social, da nossa anomia, do nosso atraso», escreve Pacheco Pereira (in Público de 19.02.2004, pág. 5). Portugal vive, come, respira, fala e pensa futebol como nunca terá alguma vez feito e com a chegada do famigerado Euro 2004 mais as quinhentas horas de transmissão pela RTP, o excesso só tende a piorar. Por reflectir e discutir ficam outros excessos bem mais prementes, como os do desemprego, da iliteracia ou da prisão preventiva.
A crise fez dos portugueses o povo mais deprimido e frustrado da Europa e não é anormal que as pessoas procurem formas de entretenimento e escapismo em períodos difíceis. O que é mais dificilmente compreensível é que se esbanje tanto tempo e energia num espectáculo tão fútil e idiota, sobretudo se considerarmos a mediocridade desportiva da nossa selecção nacional e dos nossos clubes (excepção feita ao Futebol Clube do Porto, claro). E com que proveito? O futebol uniformiza, embrutece e estupidifica; banaliza o insulto e a violência; consome dinheiro e energias; e em vez de trazer conhecimento, amealha aquilo que é pior que toda a ignorância junta.
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