2006-08-01

Tony Soprano


Boas notícias: Tony Soprano está vivo. O senhor saiu do coma, está bem de saúde e já podemos todos respirar de alívio. Mas não será estranho que nos sintamos aliviados? Afinal de contas, o protagonista da série Os Sopranos está longe, muito longe de ser um herói ou uma pessoa impoluta. Tony lidera a organização criminal mais poderosa de Nova Jersey e é responsável por fraudes, raptos, extorsões e homicídios. Ainda para mais, é um indivíduo homofóbico, machista (deixa a mulher fechada em casa, enquanto vai para a cama com as suas goomahs) e racista. Então, como se explica que gostemos tanto dele?

Tony Soprano poderá ser mau, mas não é completamente mau. Apesar de todas as brutalidades que comete, ele não é um indivíduo totalmente desprovido de escrúpulos e já deu algumas provas de carácter. O caso mais evidente é a relação com os seus filhos: Tony adora os miúdos e toma os maiores cuidados para que, de futuro, eles não enveredem pela vida do crime. «Tudo o que eu faço é por ti e pelo teu irmão», disse ele à filha e com razão.

O que talvez não seja tão evidente é que as razões que fazem de Tony um homem mau são as mesmas que o tornam bom. Ele é ao mesmo tempo um criminoso brutal e um tipo decente, porque adopta um sistema moral muito particular: família e negócios são a espinha dorsal do seu código de valores e que ele sobrepõe a todas as outras coisas. Tony Soprano só se preocupa com os familiares e amigos e fará de tudo para proteger essas pessoas que lhe estão mais próximas. Este é o seu grande erro, pois a moral deve ser essencialmente imparcial.

A realidade, porém, é que o pensamento moral dominante nos nossos dias é o da parcialidade. Poderemos não ser chefes mafiosos, mas normalmente só pensamos numa parte das pessoas que são afectadas pelas nossas acções. Por exemplo, a pessoa que oferece presentes caros aos familiares em vez de ajudar organizações humanitárias não é censurada, porque age correctamente com a família e é só isso que a moralidade exige dela; e ninguém se escandaliza com o sindicalista que coloca os interesses da profissão à frente do bem comum, já que ele age por lealdade aos seus colegas. Em matéria de princípios, Tony Soprano não é muito diferente de qualquer um de nós.

7 comentários:

Anónimo disse...

Uma série que é tão boa que chega a ser irritante. Abraço.

Anónimo disse...

Tony Soprano. É o meu herói televisivo, ao lado de Homer Simpson!:)

E já agora, admito aqui que prefiro Sopranos, no campo da televisão, do que Padrinho, no campo do cinema. E gosto imenso dos dois, claro.

Abraço

gonn1000 disse...

"Em matéria de princípios, Tony Soprano não é muito diferente de qualquer um de nós."

Bem, eu nunca matei ninguém...

E mesmo que o Tony tenha o seu código de honra, não é suficiente para que me preocupe com ele, o que me cria algumas resistências à série.

Maria Strüder disse...

saudades...

Maria Strüder disse...

Em resposta ao comentário no meu blog: Conheco "O Grito" é simplesmente genial, marca uma época de obscurantismo que Munch soube retratar em toda a sua perfeição.

Flávio disse...

Nem mais. Adoro esse quadro, é um quadro para ler e ouvir. Deve ser o quadro mais sonoro da história da pintura.

Anónimo disse...

Todos nós temos um Tony Soprano dentro de nós :)...

Abraço