2006-07-15

O público português

Tal como se analisa e julga a qualidade de um filme, também se deveria poder criticar a qualidade do público de cinema. O critério de avaliação consistiria no que poderíamos chamar, algo pomposamente, de cultura cinéfila dos espectadores – que incluiria parâmetros como a assiduidade, o civismo ou a extensão dos conhecimentos sobre filmes. Teríamos então de concluir que o público português é uma merda. É ele o grande responsável pela crise do nosso cinema: temos excelentes cineastas, argumentistas, actores e técnicos; só falta mesmo é um público bom.

O nosso público não tem um mínimo de espírito crítico. É um público provinciano (no pior sentido) e pacóvio. Um estudo recente da Universidade Lusófona demonstrou que mais de metade dos portugueses têm uma atitude de indiferença em relação ao cinema do nosso país. Eis alguns números expressivos: 58,2% dos inquiridos afirmaram-se nem satisfeitos nem insatisfeitos com os filmes, mas 45,9% não foram capazes de dizer qual o último filme que tinham visto e 66,7% acham que a solução está na melhoria da qualidade dos diálogos. Isto diz tudo.

O problema maior é que já nem os filmes estrangeiros, bons ou maus, parecem interessar aos portugueses. Os cinemas estão cada vez mais às moscas e multiplicam-se os casos de salas históricas que encerram por falta de espectadores. À excepção de alguns fenómenos da moda ou altamente mediatizados, o cinema é hoje um espectáculo em crise entre nós e os resultados do box-office não deixam quaisquer dúvidas a esse respeito.

Quanto à falta de civismo, chega a ser escandalosa. Os poucos portugueses que ainda vão ao cinema não sabem como se comportar num lugar desses, nem respeitam os outros que lá estão e também pagaram bilhete: os pés em cima das cadeiras, a ruminância das pipocas e até a escarradela furtiva para o chão já se tornaram em lugares comuns. Quando fui ao cinema ver A Costa dos Murmúrios, a algazarra de um casal de paneleiros enchia a sala toda; a meio da sessão, lá tive de me levantar e pedir aos dois que se calassem, porque não conseguia ouvir o filme; mal regressei ao meu lugar, recomeça aquela balada infernal. Ainda hoje, não sei do que trata A Costa dos Murmúrios.

6 comentários:

zazie disse...

pacóvios ou não o que espanta é não saírem de casa e prferirem os videos e as novelas. Vais a Madrid e os cinemas estão sempre cheios...

cá para mim a razão é a mesma que leva a que a baixa esteja ao abandono

Flávio disse...

Nem mais. Em Berlim é o mesmo: lembro-me de uma quarta-feira em que fui ao cinema ver um documentário sobre música, a sala estava cheia e não se ouviu o estalar de uma única pipoca.

musqueteira disse...

Viva Flávio...e depois ainda dizem que há salas de cinema só para determinadas elites?!...Que são povoadas por um público esterotipado...cuja linguagem se propraga a Mono e não a Stereo!... Não se entende de facto este Povozito...desgovernado!!!!!!!

Flávio disse...

Neste país de asnos, qualquer pessoa que saiba ler, escrever e contar é uma elite. Beijinhos, Musqueteira!

Anónimo disse...

Não perdeste grande coisa que esse filme não vale um boi. E sim, os diálogos das películas lusas são do piorio (bem como o áudio). No resto (da posta e do blog) tiro-lhe o chapéu caro senhor.

Anónimo disse...

A culpa é dos Portugueses pacóvios que não entendem de nada mas têm opinião sobre tudo, uma cambada de provincianos (no pior sentido) o público portugues é um público de merda! Claro que tu não te encaixas neste perfil, és do "bom público", ou es estrangeiro, ou fazes parte de uma elite, mas sem duvida que és especial lol