«Eu não estava triste por partir. Eu vivia mergulhado num estado de estupidez; mas estava recuperando aos poucos e ansiava por rever Steerforth, apesar da figura de Mr. Creakle assomar perigosamente por detrás dele. Mais uma vez, Mr. Barkis apareceu junto ao portão e mais uma vez, Miss Murdstone bradou ‘Clara!’ no seu tom admonitório, quando a minha mãe se debruçou sobre mim, para me dizer adeus.
Beijei-a e ao meu irmão bebé e senti então uma tristeza imensa; mas não pela minha partida, pois a separação entre nós já existia e a partida estava presente todos os dias. E não foi tanto o abraço que ela me deu, por mais fervoroso que tenha sido, que perdura na minha memória, quanto o que se seguiu ao abraço.
Eu estava já na carruagem quando a ouvi chamar por mim. Espreitei para fora e lá estava ela sozinha frente ao portão do jardim, erguendo o filho nos braços para que eu o visse. Fazia ainda frio; e nem um só dos seus cabelos ou uma das pregas do seu vestido se movia, enquanto me olhava fixamente e erguia no ar a sua criança.
Assim me separei dela. Assim passei a vê-la nos tempos que se seguiram, no meu sono no colégio – uma presença silenciosa junto da minha cama – olhando-me com o mesmo rosto fixo – erguendo a criança nos seus braços.»
(in Charles Dickens, David Copperfield, Wordsworth Classics, Wordsworth Editions Limited, Hertfordshire, 1993, págs. 104 e 105)
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