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O genial Anton Tchekov é um adepto dos detalhes. O escritor russo falou muitas vezes da importância dos pormenores e da sua aversão às generalidades: «Deus nos livre dos lugares-comuns». A mesma regra vale na escrita para cinema, que é a forma mais complexa de contar histórias. São os pormenores que ficam na cabeça dos espectadores e que suscitam as discussões mais entusiasmadas. O realizador David Cronenberg, por exemplo, conhece bem esse poder das pequenas coisas. Talvez nenhum cineasta seja tão exímio na arte dos detalhes como ele.
A riqueza de pormenores é um verdadeiro princípio estruturante do cinema de David Cronenberg. Os seus filmes permitem encontrar o grandioso no que é pequeno e os detalhes brilham em momentos supostamente menos importantes. São pequeninas coisas como a timidez da protagonista em eXistenZ ou o choro do violino em Eastern Promises que não só dão credibilidade e substância às suas histórias, mas também fornecem a chave para a compreensão do seu pensamento.
Tudo isto requer alguma subtileza. Se um autor saturar a sua história com detalhes complicados e irrelevantes, obterá precisamente o efeito oposto ao que pretende e não conseguirá cativar o interesse de ninguém. Terá produzido uma espécie de manual de instruções e não uma boa história. A regra da riqueza de pormenores deve, por isso, ser corrigida por uma outra, a da necessidade. Só devem ser acentuados os pormenores que sejam necessários à definição de uma personagem, como as cicatrizes dos protagonistas em Crash, ou ao desenvolvimento da história.
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