2005-06-27
A Senhora Hitchcock
Um dos segredos do sucesso de Alfred Hitchcock foi o seu talento para escolher excelentes colaboradores. Um filme é uma obra colectiva e nenhum realizador, por mais genial que seja, pode ter a pretensão de querer controlar tudo sozinho: é necessário seleccionar uma boa equipa, ouvir as pessoas e confiar nelas. Hitch sabia-o bem e rodeou-se sempre de artistas tão notáveis como Saul Bass, Joseph Stefano, Ernest Lehman ou Bernard Herrmann. Porém, a pessoa que mais e melhor colaborou com Hitchcock é praticamente uma desconhecida: a sua mulher, Alma Lucy Reville. No seu texto The Woman Who Knows Too Much (1956), o cineasta descreve-a como uma profissional brilhante, cozinheira excepcional e a sua maior confidente.
Um dia mais velha que o marido, Alma iniciou-se no cinema aos 16 anos de idade. Trabalhadora esforçada, já havia ascendido aos cargos de anotadora e montadora muito antes de Hitchcock ter concebido o seu primeiro inter-título para um filme mudo. O pedido de casamento teve lugar no decurso de uma turbulenta viagem de barco, por entre ondas impiedosas e enjoos; nessas condições e confrontada com tão ousada proposta, Alma limitou-se a resmungar, acenar afirmativamente com a cabeça e a arrotar ruidosamente. «Foi uma das minhas melhores cenas», contou mais tarde o realizador, «um pouco pobre nos diálogos, mas maravilhosamente encenada e interpretada com enorme realismo».
O nome de Alma surge creditado em muitos dos filmes de Hitchcock, desde 1925 até Pânico nos Bastidores, em 1950. Alguns críticos e biógrafos, como Donald Spoto, afirmam que isto poderia ser apenas uma forma ardilosa de arrecadar mais um ordenado, o que é um perfeito disparate. A influência da Senhora Hitchcock era, na realidade, decisiva. Ao fim da tarde, quando o realizador regressava a casa, ambos discutiam longamente o guião do filme que estivesse na altura em produção e divisavam novas ideias para a sessão do dia seguinte com qualquer dos escritores mundialmente reputados que o Mestre tivesse então contratado.
Além das suas qualidades profissionais, os amigos do casal falam de um espírito inquebrantável que permitia a Alma conviver com um temperamento tão peculiar como o de Hitchcock. Com efeito, o realizador empregava na condução do seu quotidiano a mesma minúcia obsessiva com que dirigia os seus filmes: nunca abandonava o gabinete nas horas de expediente; vestia sempre o mesmo tipo austero de fatos, de modo a que não despendesse inutilmente as suas energias na escolha da roupa; quando viajava, utilizava sempre as mesmas suites nos hotéis para que se pudesse sentir seguro e confortável.
Nas palavras do próprio Hitchcock, «Alma é extraordinária por ser tão normal. E a normalidade é algo de anormal nos dias que correm. Ela tem uma presença incontornável, uma personalidade viva, um rosto sempre luminoso». Que teria sido do notável realizador sem essa fonte inesgotável de força a seu lado? Provavelmente, um profissional não tão notável e bem menos interessante. Felizmente para nós, o cinema juntou-os e ambos não só protagonizaram uma verdadeira e grande história de amor, como também conceberam alguns dos filmes mais emocionantes de sempre.
2005-06-23
O Amor
«Todo o tempo que não é dedicado ao amor é perdido.» Torquato Tasso
«Mantém os olhos muito abertos antes do matrimónio e semicerrados depois.» Provérbio
«Um matrimónio está bem edificado se ambos os cônjuges sentem habitualmente a necessidade de discutir ao mesmo tempo.» Jean Rostand
«Quando estamos apaixonadas por alguém, queremos estar sempre a seu lado, excepto quando saímos para fazer umas compras a debitar na conta dele.» Miss Piggy
«Haverá sempre uma guerra entre os sexos, porque homens e mulheres querem coisas muito diferentes: os homens querem mulheres e as mulheres querem homens.» George Burns
«O amor é como a guerra: fácil de começar, mas muito difícil de parar.» H. L. Mencken
«Quando te casares, faz a ti mesmo esta pergunta: acreditas que serás capaz de conversar com aquela pessoa até à velhice? Tudo o resto no matrimónio é transitório.» Friedrich Nietzsche
«O amor não consiste em contemplar-se mutuamente mas em olhar juntos na mesma direcção.» Antoine de Saint-Exupéry
«Um arqueólogo é o melhor marido a que uma mulher pode aspirar, pois quantos mais anos esta tiver maior será o interesse dele.» Agatha Christie
«No amor há duas desgraças: guerra e paz.» Horácio
«O grande segredo de um matrimónio feliz é tratar todos os desastres como incidentes e nenhum dos incidentes como desastre.» Harold Nicholson
«Segundo casamento: triunfo da esperança sobre a experiência.» Samuel Johnson
«Casa-te de qualquer maneira: se encontrares uma boa esposa, serás feliz; se for má, serás filósofo.» Sócrates
«Mantém os olhos muito abertos antes do matrimónio e semicerrados depois.» Provérbio
«Um matrimónio está bem edificado se ambos os cônjuges sentem habitualmente a necessidade de discutir ao mesmo tempo.» Jean Rostand
«Quando estamos apaixonadas por alguém, queremos estar sempre a seu lado, excepto quando saímos para fazer umas compras a debitar na conta dele.» Miss Piggy
«Haverá sempre uma guerra entre os sexos, porque homens e mulheres querem coisas muito diferentes: os homens querem mulheres e as mulheres querem homens.» George Burns
«O amor é como a guerra: fácil de começar, mas muito difícil de parar.» H. L. Mencken
«Quando te casares, faz a ti mesmo esta pergunta: acreditas que serás capaz de conversar com aquela pessoa até à velhice? Tudo o resto no matrimónio é transitório.» Friedrich Nietzsche
«O amor não consiste em contemplar-se mutuamente mas em olhar juntos na mesma direcção.» Antoine de Saint-Exupéry
«Um arqueólogo é o melhor marido a que uma mulher pode aspirar, pois quantos mais anos esta tiver maior será o interesse dele.» Agatha Christie
«No amor há duas desgraças: guerra e paz.» Horácio
«O grande segredo de um matrimónio feliz é tratar todos os desastres como incidentes e nenhum dos incidentes como desastre.» Harold Nicholson
«Segundo casamento: triunfo da esperança sobre a experiência.» Samuel Johnson
«Casa-te de qualquer maneira: se encontrares uma boa esposa, serás feliz; se for má, serás filósofo.» Sócrates
Montanha Mágica
O extraordinário desfecho do romance Montanha Mágica (1924), de Thomas Mann, deixa o leitor inquieto. Tudo termina com o número sete. Além dos sete grupos no salão de jantar e das sete pessoas à mesa dos «russos ordinários», foram sete os anos que o protagonista Hans Castorp passou nessa Montanha. O próprio livro explica porquê: «não é um número redondo ao gosto dos partidários do sistema decimal, e todavia é um número bom, prático à sua maneira; um lapso de tempo mítico e pitoresco, pode dizer-se, e mais satisfatório para a alma do que, por exemplo, uma árida meia dúzia». Trata-se, na verdade, de um número magnífico para concluir um romance. O sete é o número do Homem completo. Significa perfeição, totalidade, unidade. Indica a modificação após a conclusão de um ciclo e uma renovação positiva. Mas qual é, afinal, o ciclo que se encerra no livro de Mann?
Termina, antes de mais, o processo de aprendizagem de Hans Castorp. O nosso herói é agora um homem livre e desligado da vida da planície de onde proveio. Essa ruptura manifesta-se por uma série de sinais óbvios: Hans já não escreve nem recebe cartas; deixou de ler a imprensa e de encomendar ao exterior os seus charutos; prescindiu do calendário e do seu relógio; e nem sequer compareceu no funeral do tio-avô Tienappel. Que diferença relativamente ao jovem simplório que há sete Verões atrás tinha chegado de Hamburgo! A aprendizagem não foi, todavia, convencional, até porque a escola que frequentou é um estabelecimento de ensino sui generis: o Sanatório Internacional Berghof.
O sanatório suíço é um lugar misterioso, mas que propicia como nenhum outro o estudo das artes e ciências. Está situado a uma altitude espantosa – mil e seiscentos metros acima do nível do mar – lá, onde também se encontra o mundo das ideias essenciais de Platão. A circunstância de ser suíço também não é fortuita: a Suiça, país neutral e poliglota, é um pequeno laboratório das ideias do seu tempo, um espaço asséptico e não contaminado pelas grandes concepções políticas e ideológicas. Aí, o estudo decorre sem pressas, paulatino e ao ritmo das estações do ano. Mas a calma é precária, porque a Primeira Grande Guerra em breve ressoa como um trovão pelo mundo inteiro e não poupa ninguém à sua passagem, nem o pobre Hans Castorp.
Há por isso um outro ciclo que se completa: o do destino trágico da própria Europa. O sanatório é uma imagem simbólica de uma sociedade europeia intimamente corroída, atolada num estado de sonolência e quietismo do qual só despertará com a irrupção da Primeira Guerra Mundial. O conflito, já se sabe, surgiu por razões perfeitamente fúteis. Mas isso não significa que a tragédia do jovem protagonista e de todo o continente seja completamente em vão. Bem pelo contrário! Hans decidiu regressar e, como é característico de um herói, fez a opção mais difícil: escolheu o serviço à sociedade, redimiu-se dos seus sete anos de dolce far niente e concluiu com enorme verticalidade a sua educação. A mensagem de Thomas Mann é optimista e intemporal: «vamos, é preciso agir!»
Termina, antes de mais, o processo de aprendizagem de Hans Castorp. O nosso herói é agora um homem livre e desligado da vida da planície de onde proveio. Essa ruptura manifesta-se por uma série de sinais óbvios: Hans já não escreve nem recebe cartas; deixou de ler a imprensa e de encomendar ao exterior os seus charutos; prescindiu do calendário e do seu relógio; e nem sequer compareceu no funeral do tio-avô Tienappel. Que diferença relativamente ao jovem simplório que há sete Verões atrás tinha chegado de Hamburgo! A aprendizagem não foi, todavia, convencional, até porque a escola que frequentou é um estabelecimento de ensino sui generis: o Sanatório Internacional Berghof.
O sanatório suíço é um lugar misterioso, mas que propicia como nenhum outro o estudo das artes e ciências. Está situado a uma altitude espantosa – mil e seiscentos metros acima do nível do mar – lá, onde também se encontra o mundo das ideias essenciais de Platão. A circunstância de ser suíço também não é fortuita: a Suiça, país neutral e poliglota, é um pequeno laboratório das ideias do seu tempo, um espaço asséptico e não contaminado pelas grandes concepções políticas e ideológicas. Aí, o estudo decorre sem pressas, paulatino e ao ritmo das estações do ano. Mas a calma é precária, porque a Primeira Grande Guerra em breve ressoa como um trovão pelo mundo inteiro e não poupa ninguém à sua passagem, nem o pobre Hans Castorp.
Há por isso um outro ciclo que se completa: o do destino trágico da própria Europa. O sanatório é uma imagem simbólica de uma sociedade europeia intimamente corroída, atolada num estado de sonolência e quietismo do qual só despertará com a irrupção da Primeira Guerra Mundial. O conflito, já se sabe, surgiu por razões perfeitamente fúteis. Mas isso não significa que a tragédia do jovem protagonista e de todo o continente seja completamente em vão. Bem pelo contrário! Hans decidiu regressar e, como é característico de um herói, fez a opção mais difícil: escolheu o serviço à sociedade, redimiu-se dos seus sete anos de dolce far niente e concluiu com enorme verticalidade a sua educação. A mensagem de Thomas Mann é optimista e intemporal: «vamos, é preciso agir!»
2005-06-19
Extrema-direita
A vida está difícil para toda a gente e a intolerância aproveita para vir ao de cima, como uma retrete entupida: ontem, foi dia de ajuntamento de fascistas no Martim Moniz, em Lisboa.
2005-06-15
2005-06-07
Blogues
Mais algumas pérolas da blogosfera: o Reservoir Movies, o Port Moresby e a Revolta dos Pastéis de Nata.
2005-06-01
Manuela Moura Guedes
A jornalista Manuela Moura Guedes disse que «se Fátima Felgueiras está acusada de tantos crimes, por alguma razão é». O que a Moura Guedes não sabe é que uma acusação não é mais que uma opinião, por vezes tendenciosa, formulada pelo Ministério Público a respeito de um processo criminal. Apenas isso e nada mais. Não é uma sentença, não produz caso julgado nem faz prova do que quer que seja. Infelizmente, há pessoas que não têm inteligência suficiente para perceber isto.
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