2008-03-30

Países terríveis: Portugal (vi)

«Os Portugueses assumiram o controlo de Cochim em 1502 e de Goa em 1510. Em Cochim, os rajás locais conseguiram proteger os Judeus durante cento e cinquenta anos, até 1662, quando, durante a guerra luso-holandesa, os Portugueses massacraram muitos Judeus e forçaram outros a fugir. Quando Vasco da Gama chegou a Calcutá, em Kerala, disse ao governador local, o Samorim: 'Os Judeus mataram o nosso Salvador. Por isso, livra-te deles.' O Samorim fingiu dar aos Judeus uma tareia monumental e disse-lhes: 'Quando esta praga desaparecer, podeis voltar.'

Na Goa portuguesa, os Judeus não encontraram outra protecção contra o Catolicismo Romano senão a conversão ao Cristianismo, mas em 1560 os Portugueses impuseram no território os rigores da Inquisição, que começou por queimar os Judeus que se tinham convertido. Dezassete anos antes, no porto de Cranganore, os Muçulmanos tinham-se juntado aos Portugueses para massacrarem a comunidade judaica local - um ramo da de Cochim.

Felizmente para os Judeus de Cochim, a ajuda estava quase a chegar. Em 1663 os Holandeses expulsaram os Portugueses de Cochim e ofereceram aos Judeus a protecção do seu civilizado modo de vida e tolerância religiosa. Cem anos depois, mais ou menos, em 1795, os Ingleses tornaram-se na potência predominante e também eles respeitaram a comunidade judaica, não a molestando.»


(in Martin Gilbert: Os 5000 Anos de História e Fé do Povo Judeu, Lisboa, Alêtheia Editores, Abril de 2006, p. 127)

2008-03-09

Berlin Alexanderplatz


Berlin Alexanderplatz (1980) é o filme mais célebre de Rainer Werner Fassbinder. É a sua obra mais complexa, erudita e ambiciosa e um dos retratos mais admiráveis de sempre de uma cidade. Berlim não é apenas o espaço em que decorre a intriga, mas constitui, com o seu pitoresco, os seus contrastes e os seus segredos, o próprio assunto do filme. Porém, a grandiosidade do conjunto não ofusca o brilhantismo e a autonomia das suas partes integrantes. Cada um dos habitantes da cidade de Fassbinder é único e fascinante pelas suas peculiaridades e contradições.

O carácter contraditório do protagonista surge com particular evidência na segunda parte do filme. Sabemos que Franz Biberkopf não é mau e que até jurou à saída da prisão de Tegel fazer apenas o bem. Sabemos inclusivamente que ele não é anti-semita, até porque o primeiro amigo que fez após o cumprimento da sua pena foi um judeu. Porém, ele aceita vender o jornal Völkischer Beobachter nas ruas da cidade e abraça a ideologia nazi, seguindo o exemplo de muitos dos seus compatriotas, que também colocaram voluntariamente o poder nas mãos de Hitler. É um facto surpreendente e mesmo os melhores pensadores nunca contaram com a popularidade e eficácia dos nazis.

Sejam quais forem as razões de Franz Biberkopf, é indiscutível que ele não age por mero oportunismo. Ele acredita sinceramente no nazismo e a força das suas convicções surge com toda a clareza no confronto final com os comunistas. É uma sequência que vemos hoje com distanciamento e ironia, pois sabemos que os intervenientes lutam encarniçadamente por ideologias que teriam consequências igualmente desastrosas.

A maior ironia talvez até nem seja essa. Os comunistas alemães não só não conseguiram impedir a tomada do poder pelos nazis, como poderão, ainda que involuntariamente, ter contribuído decisivamente para o sucesso de Hitler. Com os seus apelos à violência popular, os dirigentes da KPD deram o pretexto ideal ao governo nazi para tomar medidas repressivas e criaram junto da população o receio, aliás infundado, de um grande levantamento bolchevista. Biberkopf parece estar plenamente consciente desses erros de estratégia, quando adverte: «De que vão vocês viver, espalha-brasas? Estão bêbedos de palavras! Só sabem causar confusão e tornar os outros odientos até ficarem mesmo maliciosos e acabarem com um de vocês!»

2008-03-06

Cicciolina (vi)

«Já votámos nos Filhos e deu no que deu, agora votemos nas mães. Vota na Puta, contra os Filhos da Puta!»